Rafael Estava no meio dos seus estudos vespertinos quando ouviu seu celular tocar. Era Selton. Antes que tivesse tempo de atender, parou tocar. Era o código estabelecido entre eles para dizer, sem muitas delongas: “atende a porta”. Derrubou a caneta sobre o livro de física e desceu para atender a porta, com a chave nas mãos. Selecionou a maior chave e abriu o portão de entrada. Rafael estava tão cansado aquele dia que, pela primeira vez, não imaginou nenhuma possível situação picante entre os dois.
- E aí, cara? – Selton apertou-lhe a mão – Não estava dormindo, não, né?
- Nada. Estava estudando a matéria de hoje. Entra aí.
- Achei que depois daquele sono bizarro você entraria em coma até amanhã.
Já tinha entrado na casa e subiram para o quarto de Rafael em silêncio.
- Cara, porque você não vai no churrasco? – Selton perguntou.
- É por isso que você veio aqui? – “Certamente, não foi pra me dar um beijo na boca...”
- Éh, Rafa! Se for grana, posso te emprestar. Depois você me paga.
- Você está parecendo um caixa eletrônico.
- Sério, Rafa.
- Eu tenho grana, Selton. Não estou realmente a fim de ir.
- Porque não? Vai ser maneiro!
“Sim! Vai ser muito maneiro você ver trocar saliva com a Débora...”
- Você sabe que sou mais na minha, não curto confusão, barulho...
- Mas aí tem cerveja, umas caipirinhas, logo, você entra no clima e quando você percebe, você já faz parte da confusão – Selton explanou, tentando convencer o amigo
– Sério, Selton. Não quero mesmo ir.
- Ah! Cara! Pára com isso! Você vai deixar de se divertir com seus amigos agora, enquanto pode, enquanto tem tempo?! É feio beber até cair quando se tem 16 anos, mas é pior quando se tem 36!
- Eu não vou beber até cair! – Rafael protestou.
- Nem eu! Só estou falando que, se existe uma época em que a gente pode se divertir com os amigos sem pensar muito no dia seguinte é agora. Depois é complicado.
- Você é mesmo insistente!
- Sou! Desde pequenininho.
- Eu vou pensar.
- Vai pensar em como a gente vai? Ótimo! Porque não sei se vamos com o pessoal ou pedimos carona para os nossos pais. Acha que vai ser muito vergonhoso?
- Não sei se vou, Selton.
- Você vai sim! Quando se tocar que vai estar perdendo um churrascão! Já te falaram que vão comprar Brahma? Quantos churrascos na sua vida tinham Brahma?!
- E o que isso tem a ver?
- Brincadeira, Rafa! Vai dormir pra gente conversar melhor amanhã! – Selton disse,frustrado, puxando Rafael pelo braço e sentando-o na cama – É difícil tentar te animar quando você está com sono!
- Mas não estou com sono! – Rafael protestou.
- Então está a fim de me irritar!
- Porque você está insistindo tanto que eu vá?
- Você é meu amigo, oras! Vai ser mais legal se você for, ao invés de ficar enfurnado dentro de casa!
Rafael analisou Selton. Ele estava realmente irritado com sua relutância em ir.
- Já disse: vou pensar. Depois te falo se vou ou não vou.
Selton deu de ombros.
- Quer saber, Rafa! – disse, desistindo - Vai dormir. Depois a gente se fala – e simplesmente saiu, sem esperar que Rafael o acompanhasse até á porta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário