sábado, 19 de junho de 2010

Um – Vírus

Já era tarde da noite e o silêncio sepulcral só era vencido pelo barulho do cooler do computador de Rafael. Pelo cooler e pela respiração ofegante. Naquela noite particularmente quente, Rafael não conseguira dormir por causa do calor, revirou na cama, se embolando nos lençóis, a cueca parecia apertada demais, a cama estava desconfortável, o suor pinicava a pele e o travesseiro parecia estar infestado de formiga. Chegou a um ponto em que respirar era difícil, e abriu a janela para arejar o quarto. Embora a janela estivesse escancarada, não entrou vento algum. Lá fora a situação estava tão caótica quanto do lado de dentro.

Rafael não podia culpar apenas o calor pela noite insone. Desde o dia que admitiu pra si mesmo que sentia por Selton, muito mais que amizade - muito mais! – sempre que se deitava e fechava os olhos, se imaginava colado ao corpo do garoto, beijando-lhe sofregamente, nus. Não precisava nem fantasiar por muito tempo. Bastava lembra-se do sorriso de Selton e imaginar como seus lábios deviam ser quentes, para ficar excitado. Aí não havia posição pra dormir que fosse confortável. Só conseguia relaxar depois de tocar uma punheta bem demorada, pensando em como seria ao menos beijar Selton.

Aquela noite não era exceção. A não ser pelo calor absurdo e pelo computador ligado. Talvez fosse pela excentricidade da noite ou porque realmente não conseguia dormir, mas Rafael decidiu navegar na internet, a procura de sites pornô. Claro que aquela não era a primeira vez que acessa o xTube pra ver homens transando e se masturbar; mas era, seguramente, a primeira vez que o fazia sem repetir o mantra incessante de que era apenas curiosidade adolescente. Tanto que optou por ver apenas conteúdo gay.

Sentou-se em frente ao computador, completamente pelado, de pernas esticadas, com os olhos muito atentos a tudo que passava na tela, afinal, era o único sentido que podia dispensar àquela atividade. Tinha desligado as caixas de som e procurava manter seus ouvidos ligados a qualquer som que pudesse soar pela casa. Abria diversos vídeos, revezando entre o mouse e o próprio pau, que estava em riste a um bom tempo. Morenos, loiros, magros, malhados, ativos, passivos, boquetes, punhetas, penetrações espetaculares... Pornô profissional, amador, amador com jeito de profissional e profissional com jeito de amador. Era tanto conteúdo indecente, tanta putaria que Rafael ficava em dúvida entre o que assistir.

Estava no fim de um vídeo de dois twinks transando, quando sentiu o orgasmo chegando. Acelerou os movimentos de vai e vem da mão e ofegando; no reflexo do prazer, fechou os olhos, pensando me Selton, pensando em gozar com Selton depois de uma transa louca. Aí, sabe-se lá porque, quando sentiu que ia gozar, ele abriu os olhos e pôs os olhos na tela do computador.

Alerta de Vírus

- O quê? – Rafael desconcentrou-se.

O seu anti-vírus detectou uma ameaça.

Não se preocupe...

Rafael nem terminou de ler a mensagem e, de repente, surgiu uma tela de erro totalmente azul e o computador reiniciou, com um barulho estranho. O garoto esqueceu completamente do que estava fazendo.

- O que aconteceu? – sussurrou, incrédulo. “Óbvio! Um vírus, idiota!”

Apareceu a tela de boot e o beep de memória apitou. Rafael encarou a tela apagada, esperando que o Windows carregasse. E esperou... esperou... esperou... e nada. A tela de boot reapareceu, o apito da memória RAM outra vez e nada do sistema operacional carregar.

- Só me faltava essa.

Estressado, Rafael apertou o botão de Power do computador, para desligá-lo, esperou alguns segundos, já completamente broxado. O processo frustrante se repetiu: boot, beep, tela escura e o computador reiniciava. Rafael franziu o rosto o cenho, desanimado. Tudo o que menos precisava naquele momento era que seu computador desse defeito.

Na esperança de que tudo se resolvesse, desligou o aparelho mais uma vez e religou. Não adiantou nada.

- Droga.

Agora seu quarto estava mergulhado na escuridão e em silêncio.

Considerou tomar um banho e terminar sua bronha no chuveiro, mas desanimou tanto que se resignou a ir deitar-se e dormir.

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