domingo, 25 de julho de 2010

Um - Fome

Tocava Tão Longe, Versão Acústica, do Reação em Cadeia, enquanto a tempestade caia impiedosamente lá fora, lançando raios e trovões assustadores. O mundo fora do quarto de Rafael era um vórtex de água, vento e fúria, mas, lá dentro, tudo o que se encontrava era serenidade.

“Quando vi os teus olhos

Eu, então, acreditei

Pude entender tudo que você quis me dizer

Fui tão longe

Fui tão longe...”

- Sabe, essa música fala exatamente o que estou pensando agora – Selton comentou, enquanto a balada rolava.

Selton estava deitado, com o braço sob a cabeça e Rafael estava encostado em seu peito. Os dois estavam inteiramente nus, pele com pele, suor com suor. Estavam cansados, o corpo formigava, como se estivesse prestes a ficar dormente. No entanto, não era esgotamento, não era satisfação pós-orgasmo, pelo menos não só isso. Rafael e Selton tinha achado... “paz”?... Rafael nunca tinha se sentido daquele jeito, como se o abraço de Selton fosse protegê-lo de tudo no mundo.

Selton pegou a mão de Rafael e entrelaçou seus dedos e ajeitou-se na cama para que ficassem com os rostos mais próximos.

- O que foi? – Rafael perguntou, quando Selton começou a rodar sua mão, como quem analisa uma pedra estranha.

- Eu não tinha reparado que você tem as mãos pequenas.

- O que você esperava Selton?! Eu mal chego aos um e sessenta e cinco! – Rafael exclamou ofendido – Tudo em mim é pequeno.

Selton olhou para ele, segurando um riso.

- Bem... Nem tudo... – comentou com malícia nos lábios.

Rafael demorou uns instantes para entender à que Selton se referia. Quando se tocou...

- Bobo! Não falava disso!

- Eu falei – sorriu.

- Você não pensa em outra coisa, não?!

Num movimento rápido, Selton rolou por cima de Rafael e respondeu-lhe, intercalando as palavras com beijos pelo rosto:

- O que você quer que eu pense, depois de uma transa maravilhosa?

Rafael não podia discordar. Sabia que sexo era bom, imaginava que fosse bom... mas não podia prever em seus sonhos mais loucos, mais absurdas expectativas, mais insanas fantasias masturbatórias que fosse espetacular! Nunca imaginou que pudesse se entregar a alguém daquela maneira, sem medos, sem pudores, sem reservas. Logo ele, que sempre fora introspectivo, com dificuldades de se abrir com outra pessoa.

- Foi bom mesmo? – Rafael perguntou, um pouco inseguro – Mesmo quando eu... eh... você sabe...

- Me comeu? Me fodeu? – Selton disse, rindo do mau jeito de Rafael com as palavras – Você não estava com essa vergonha toda meia hora atrás.

Selton ria feito um bobo, feliz, contente; seus olhos escuros brilhavam mesmo na escuridão azulada na qual o quarto estava mergulhado.

- Ah! Me deixa! – Rafael reclamou; no entanto, ria junto com Selton.

De repente, o brilho nos olhos de Selton mudou, seu sorriso sumiu, suas mãos começaram a percorrer o corpo de Rafael, enquanto ele suspirava ao pé de seu ouvido.

- Transar com você foi ótimo – sussurrou antes de beijar-lhe o pescoço, seus dedos se embrenharam nos pentelhos de Rafael e começou a acariciar-lhe o pau, que ficou duro em questão de segundos – Você tem os tamanhos certos... as texturas certas... a cadência certa.

“Está acontecendo de novo”, Rafael pensou, enquanto a temperatura do seu corpo subia e mesmo assim sua pele arrepiava. Seu pau estava totalmente duro, pronto para ação; podia sentir o membro de Selton também rígido e pulsante, esfregando em suas pernas.

Ele segurou a cabeça de Selton e o beijou com vontade, enquanto se masturbavam.

- Rafa, posso pegar outra camisinha?

- Deve!

Selton se levantou com pressa e, na gaveta, pegou uma embalagem e a abriu. Retirou o preservativo escorregadio e o desenrolou sobre seu pau. Rafael já o esperava de bruços preparado para o terceiro round. Quando sentiu o peso de Selton em seus cabelos loiros, o pênis quente e duro entre as nádegas, os beijos nas costas, fazendo choques elétricos percorrerem seu corpo.

- Você tem as costas mais lindas que já vi.

- Eu não vi as suas – Rafael rebateu, virando o rosto.

- Ainda.

Rafael arqueou as costas para trás e beijou Selton.

- Tem certeza, Rafa?

- Sempre.

E do nada os dois ouviram um barulho estranho, um rugido abafado quase animalesco, que veio de lugar nenhum.

- Rafael, o que foi isso? – Selton perguntou assustado.

- Acho que foi meu estômago... – Rafael admitiu, sem graça.

- Seu estômago?!

- Eu não almocei ainda, poxa! Estou só com uns pedaços de carne na barriga!

Selton riu, encostando a cabeça nas costas de Rafael.

- Vamos lá comer alguma coisa – Selton disse.

- Não! Continua... – Rafael pediu, quase choramingando – Quero transar com você de novo.

- Calma, guloso. A gente tem a noite todo ainda.

A decepção de Rafael foi embora. De súbito, ele ficou desesperado.

- Cara... minha mãe, meu irmão! Eles devem estar em casa!

- Acho que não, Rafa. Depois do que a gente fez aqui, eles com certeza teriam subido.

- Coloca uma roupa. Vamos lá olhar.

Rafael se levantou rapidamente, enquanto Selton tirava a camisinha inutilizada. Ele se agachou e pegou as outras duas que estavam no chão e foi no banheiro, jogá-las fora.

Rafael abriu a porta do quarto com cuidado e deu uma analisada geral pelo corredor do segundo andar; todas as luzes estavam apagadas e, pelo que pode perceber, o andar de baixo estava do mesmo jeito.

Ele desceu as escadas meio desconfiado, Selton o acompanhou.

De fato, estava tudo quieto no outro andar; nem Sueli nem Alex estavam em casa.

- Onde será que minha mãe foi? – já era bem tarde e Sueli não costumava ficar tanto tempo fora sem avisar.

- O carro dela está na garagem... as vezes ela saiu e ficou presa nessa chuva.

- O Alex eu sei que se ele não chegou até agora, não volta mais... Mas minha mãe...

- Liga para ela, pra saber o que houve.

- Não... daqui a pouco ela deve estar aí – disse, sem muita convicção.

- Posso ligar para os meus pais, avisar que vou dormir aqui...

- Dormir? – Rafael repetiu com um sorriso.

- Aham! Quero ficar com você a noite toda. Posso?

- Vou pensar no seu caso... Liga lá para eles, que vou adiantando alguma coisa pra gente comer.

- OK – Selton agarrou Rafael e deu um beijo de tirar o fôlego – Cara, está muito difícil de acreditar.

- Eu sei.

Nenhum comentário:

Postar um comentário