domingo, 25 de julho de 2010

Dois - Pedido

Selton voltou, quase saltitante da sala, enquanto Rafael montava quatro sanduíches de peito de peru.

- E ai? – Rafael perguntou, embora a resposta fosse óbvia.

- Falei que ia dormir aqui, porque a chuva apertou muito. E meu pai deixou.

- Ótimo.

Enquanto montavam o lanche com pão, maionese, e batata palha, os dois foram conversando; Selton sentado em um banco alto, debruçado sobre a bancada e Rafael, do outro lado, preparando o lanche.

- Você era virgem, mesmo? - perguntou Selton, com bastante interesse.

- Era, sim! - Rafael estranhou - Por quê?

- Nem com mulher?!

- Nem com mulher!

- Ah! Fala sério! Você é muito bom de cama pra ser virgem!

Rafael ficou vermelho de vergonha. Mais do que o cat-chup em sua mão.

- Bem, não sou mais. - disse encabulado.

Selton riu.

- Desculpa, não queria te deixar vermelho. Só disse a verdade.

- Se eu já era bom, virgem, quanto tiver mais experiência, talvez seja melhor.

- Se ficar melhor, acho que vou ter muito trabalho daqui pra frente.

Rafael se espantou:

- Como assim?

Selton engoliu a seco. Não soube se disse algo precipitado, nem se devia se explicar ou se o desentendimento de Rafael era uma reação contrária a sua.

- Ah! Cara, sei lá! - ele abaixou a cabeça e seu olhar quase podia perfurar o tampo de granito branco da bancada da cozinha - Achei que a gente ia, pelo menos ficar outras vezes.

Rafael parou o preparado do sanduíche na metade.

- Mas é claro que vamos ficar de novo! Só se você não quiser - Rafael sentiu um aperto no peito. Não sabia se era a possibilidade de nunca mais poder tocar o corpo de Selton que estava atormentando-o, ou se era ver o garoto moreno triste e pensativo a sua frente, que não combinava em nada com o comportamento de momentos atrás.

- Posso falar a verdade?

- Deve!

- Eu sei que você deve estar confuso, agora. Não deve ser fácil organizar os sentimentos dentro você, por enquanto. Só que eu não queria que ficasse apenas nisso, sabe? - seus olhos começaram a brilhar, marejados de lágrimas - Demorei muito pra encontrar alguém como você e não queria desperdiçar a chance.

Rafael começava a entender do que Selton estava falando.

- Achei que você tivesse medo de se envolver, por isso estou confuso.

- Eu tenho medo, e nossa primeira conversa foi sobre isso! Mas eu também disse que nunca tinha levado ninguém a sério, porque não queria dividir minha vida com qualquer um! Fiquei com muita gente, sim, mas que não queriam nada da vida! Queriam apenas se divertir a qualquer custo, pessoas vazias. Aproveitei o máximo que podia com elas, foi bom, mas nunca foi o bastante! Com você foi diferente! Eu sinto que quero dividir minha vida com você, quero estar com você! Só que não posso te pressionar. Sou o primeiro cara que você ficou e agora está sendo bom, só que daqui a pouco você pode mudar de idéia, pode achar repulsivo, vai me culpar e, principalmente, se culpar; e não quero isso pra nenhum de nós dois.

Rafael estancou; era muita informação caiu sobre ele de uma única vez. Sempre achou que Selton era o tipo de cara que nunca se envolvia com ninguém, fosse pelo motivo que fosse. E, no entanto, estava se revelando mais sentimental do que poderia prever. Ele estava quase chorando na sua frente, totalmente emocionado, assim como ele próprio, logo que terminaram de transar. Ficou perdido no espaço durante muito tempo.

- Cara, depois de hoje, não tenho mais dúvida nenhuma sobre o que sinto por homens e, principalmente, por você! Eu sei que não vai ser fácil, não é todo mundo que entende o que sentimos um pelo outro. Mas, se você estiver do meu lado, acho que vai ser mais fácil.

O rosto de Selton se iluminou.

- Você está falando sério?

- Estou, cara, quero ficar com você da maneira que for preciso.

Selton puxou Rafael pela nuca e o beijou, feliz, contente, quase explodindo. Rafael deixou o lanche de lado, a fome foi embora, esqueceu do mundo naquele beijo.

- Rafa, namora comigo?

Rafael ouviu aquelas palavras com prazer. Não aquele prazer sexual que sentira a noite inteira. Era uma sensação diferente, de felicidade plena, como se tivesse ouvido as palavras que esperou a vida inteira para ouvir.

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