segunda-feira, 21 de junho de 2010

Dez - Desconfiança

Rafael, Selton e Ana já estavam voltando para a sala, quando Rafael se lembrou que ainda tinha outro problema em mãos pra resolver.

- Gente, vocês já acharam outra pessoa pra entrar no nosso grupo de química?

- Ah! Rafa, quatro já está bom, não? – Ana disse.

- É que o Guilherme me perguntou se ele podia fazer o trabalho com a gente.

Ana estancou no meio do caminho.

- O quê?

Selton olhou para trás assustado, mas Rafael podia entender bem porque Ana ficara tão espantada:

- O que houve? – Selton perguntou.

- Você me disse que o Guilherme pediu pra entrar no nosso grupo?

- Sim – Rafael respondeu.

- Tem algum problema? – Selton perguntou.

- Tem sim! – Ana disse – Ele é irritante!

- Isso não chega a ser exatamente um explicação... – Selton disse.

- Ele é afim de mim tem uns dois anos. Já chegou em mim várias vezes. Mas ele não se toca que não quero nada com ele!

Rafael deveria ter antecipado que colocar Guilherme no grupo seria difícil. A história entre Guilherme e Ana - ou a falta de história – era longa. E não podia deixar de concordar com Ana, que Guilherme era irritante. Mas precisava contornar a situação, porque não sabia o que Guilherme poderia aprontar se não o colocasse no grupo. Principalmente agora que sua atração por Selton era inegável.

- Ele não vai chegar na sua, fazendo um trabalho de química... – Rafael argumentou, sem muita convicção. – Tenho certeza que ele vai se comportar.

- Rafael! Você também não vai com a cara dele!

- Isso não é verdade – mentiu – Ele só não é meu... melhor amigo. E pensa pelo lado bom: o Guilherme é muito inteligente, vai ser mais fácil resolver todos aqueles exercícios.

Selton estava no meio da discussão, sem saber pra onde correr.

- Ele só quer entrar no nosso grupo pra ficar mais perto de mim, Rafa! Você sabe disso!

- E se ele tiver desencanado, partido pra outra. Você não sabe disso...

- Por que você está insistindo tanto para ele fazer o trabalho com a gente Rafael?

Rafael engoliu a seco. Aquela era a pergunta que ele queria não queria responder.

- Eu não estou insistindo. Só acho que seria legal ele fazer o trabalho com a gente, porque ficaria mais fácil. E ele também está sem grupo. E,qual é, a gente fala mal do Guilherme, mas quem de nós realmente conhece o cara?!

Ana espremeu os olhos e entortou o rosto.

- Por que não fazemos o seguinte: se ele encher muito a sua paciência, eu o boto pra correr? – Selton disse, passando um braço envolta do pescoço de Ana e a puxando.

- Viu, você já tem um guardião – Rafael disse, esperando que Selton pudesse convencê-la.

Ana demorou muito, considerando o pedido de Rafael.

- Ok! – e se virou para Selton – Mas se ele tentar qualquer gracinha, eu quero que você dê um belo murro na cara dele!

- Pode deixar! – Selton confirmou.

- Podemos ir pra sala agora? – Rafael perguntou, aliviado por ter conseguido resolver mais aquela pendência.


Nove - Besteiras

- O que você tem na cabeça, Lúcia?

- Eu?! Você é que parece não ter nada na cabeça! Não viu que ele estava jogando charme pra cima de você! E cá entre nós: que charme!

As duas andavam na rua enquanto caminhavam, voltando para o prédio onde trabalhavam.

- Você ficou maluca!

- Su, faz quanto tempo que você não sai com alguém interessante! Não! Melhor! Faz quanto tempo que você não sai com alguém, só alguém?

- Anos, Lúcia! Mas eu não tenho tempo, nem disposição pra isso! Eu tenho trabalho pra fazer, filhos pra cuidar, casa pra arrumar!

- Ah! Pelo amor de Deus, Su! Alex já é um homem, o Rafael está no mesmo caminho, a sua empregada arruma direitinho a sua casa e sempre é possível achar um tempinho na sua agenda pra paquerar um pouco.

- Se você acha que eu preciso tanto assim “paquerar”, porque me tirou de lá as pressas?

- Porque você estava estragando tudo! O garoto estava puxando assunto e você na defensiva, sem se tocar que aquele lindo espécime de homem estava afim de papo. E eu realmente precisava vir embora!

- Homem? Onde você viu homem ali, Lúcia. O garoto deve ter a idade do Alexandre! E a última coisa que eu preciso, na minha idade, é de outro filho, Lúcia!

- “Na sua idade”! Acorda pra vida mulher! Você está linda, jovem, poderosa! Porque um garotão não pode se interessar por você? Por que você não pode se interessar por um garotão?

- Você, sequer, está ouvindo as besteiras que está falando, Lúcia?

- Eu não. Mas tenho certeza que o Pablo adoraria ouvir as suas besteiras.

Oito – Admiração

- Eu não agüento mais. Aquela garota vai me deixar louca em pouco tempo, Su!

Aquela era Lúcia, umas das poucas melhores amigas Sueli. Era uma mulher magra, de cabelos escuros e lisos, rosto magro e começando a apresentar os primeiros sinais da idade. Na verdade ela era mais nova do que parecia, umas décadas de vício em nicotina acabaram com sua juventude. Mas ela também não parecia esquentar muito para isso. A filha adolescente e o marido preguiçoso tinha prioridade na sua lista de preocupações diárias. Ela trabalhava no escritório ao lado de Sueli, num consultório odontológico. As duas se conheceram encontrando nos corredores durante o expediente e dividindo elevadores. Os cumprimentos educados do dia-a-dia se transformaram em conversas, que evoluiu para uma confiança mútua e, assim, amizade.

- Você acredita que outro dia, eu cheguei em casa, e passando no quarto dela, e vi uma camisinha usada em baixo da cama dela?

As duas tinham feito uma pausa estratégica no meio da manhã para tomar um café básico. Sueli queria apenas o café, as o vício em nicotina de Lúcia também era acompanhado da cafeína.

Ela desceram a rua até uma galeria – coisa comum em juiz de fora – e pararam na habitual lanchonete, que ficava embaixo da escada para o segundo andar da galeria, quase que escondido.

- Qual o problema? – Sueli perguntou, procurando a carteira na bolsa de couro preto.

- “Qual o problema”? A Bia é muito nova pra fazer sexo! E o pior: na minha casa!

- Quanto anos a Bianca tem? 16, 17? Você não sabe como eu ficaria feliz de encontrar uma camisinha usada no quarto do Alex quando ele tinha essa idade. Quando ela aparecer dizendo que acha que está grávida, você vai entender o que eu estou falando. Me vê um café, por favor. – Sueli disse.

- Um pra mim também. Eu não ligo para a camisinha. Eu ligo para o sexo, Su! Sem contar que foi nojento!

Contra aquilo, Sueli não podia argumentar.

- Lúcia. Gostando ou não, sua filha já tem uma vida sexual ativa. E já que é assim, melhor que seja prevenida!

- Eu sei! Mas ela é minha menininha!

- Nossos filhos sempre são nossos menininhos, bebezinhos e todos os “inhos” mai que se pode imaginar... mas eles crescem.

- Não deveriam.

- Eu concordo, mas não fomos nós que fizemos as regras.

Sueli mal terminou a frase e o celular da amiga começou a apitar.

- Su, já volto – e Lúcia se afastou, colocando o aparelho na orelha.

Sueli tomou um gole do seu café quente, sentindo-o revigorá-la por dentro. Estava distraída olhando para a vitrine do outro lado da lanchonete, admirando um vestido., quando alguém a chamu.

- Com licença – ela olhou rapidamente – Você é a Doutora Sueli Moreira?

Era um garoto. Não bem um garoto, mas comparado a ela, sim, com toda certeza. Devia ser alguns anos mais velho que Alex, tinha cabelos escuros e enrolados, cortados estilo asa-delta, olhos negro e brilhantes. Seu rosto era quadrado com maxilar robusto, coberto por uma barba muito bem aparada. Embora estivesse sentado no balcão, Sueli sabia que ele era bem alto. Vestia-se com elegância, camisa social e calça impecáveis, sapatos lustrosos e um relógio caro no pulso. Sueli já estava no ramo a tempo suficiente para saber: ele era um advogado.

- Sim, sou – ela respondeu, desconcertada e surpresa.

- Desculpa. Eu sou Pablo – ele disse estendendo a mão grande e robusta – Eu assisti algumas audiências suas quando fazia estágio no fórum.

- Quem não já viu? – ela riu, ainda mais sem graça.

- Não! Estou falando sério. Eu admirava o jeito como você montava e defendia seus casos. Principalmente os de guarda de menor. Eu acho impressionante sua dedicação.

Sueli prestou muita atenção em Pablo. Havia uma certa suspeita sobre ele, algo no olhar, no sorriso. Sua admiração era genuína, mas tinha algo mais.

- Obrigada. Mas fica muito fácil conseguir determinação quando o outro responsável é um irresponsável – Sueli disse, contraindo mais seu sorriso, sentido-se desconfortável com aquela abordagem.

- Posso lhe pagar um café?

Sueli levantou sua xícara, como quem diz: “olha ele aqui”.

- Ok – Pablo sorriu, sem graça – Posso pagar esse, então?

- Não precisa. Obrigada.

Nesse instante, Lúcia retornou, guardando seu celular na bolsa.

- Aqui, vamos. Tenho que correr, agora!

- O quê? Você nem tomou o seu café! – Sueli protestou.

- Tem problema, não! Paga aí e depois eu te devolvo o dinheiro – Lúcia parecia ansiosa pra ir embora.

- O que houve? – Sueli perguntou.

- Nada! Olha só! Olá, garotão! – ela disse, olhando para o outro lado do balcão, onde Pablo estava. Lúcia foi até lá e com um sorriso meio tímido, perguntou: - Você tem um cartão ou algo assim? É que minha amiga já não paquera faz muito tempo, ela não entende mais alguns sinais básicos...

- Lúcia! – Sueli protestou horrorizada.

- Mas se você me der um cartão ou um telefone, eu tenho certeza que ela vai entender.

Pablo abriu um sorriso enorme, visivelmente se divertindo com a desenvoltura – leia-se: cara de pau – de Lúcia e o embaraço de Sueli – que parecia querer enfiar a cabeça num buraco e nunca mais tirar.

- Eu não acredito que faça tanto tempo assim – ele disse a Lúcia – Tenho certeza de que onde ela vai, todo mundo a observa.

Lúcia virou para a amiga.

- Está vendo que homem galante.

- Ok, pega o cartão e vamos embora! – Sueli disse, exasperada.

- Aqui – Pablo tirou um cartão de visitas do bolso da camisa e entregou à Lúcia.

- Obrigada, Pablo – ela disse, lendo o texto do cartão.

Sueli pegou a amiga pelo braço, sorriu completamente desconcertada para Pablo e arrastou pelo caminho de volta.

Sete - Providências

Rafael não podia acreditar no que Guilherme havia dito. Em nada! Principalmente sobre Débora. A garota não perdia mesmo tempo. Tinha achado um meio de se enfiar no grupo de química, começara a pedir “favorzinhos” e, agora, seguindo Selton a peladas como uma Maria chuteira. Ela não tinha vergonha, não? A resposta parecia bem óbvia.

“Mas que besteira é essa passando na sua cabeça?!”, Rafael pensou. “Selton não é seu namorado, seu idiota! Ele é só o cara por quem você tem uma queda, nada mais que isso! Se você não começar a se controlar, vai acabar fazendo uma besteira e estragando a amizade que vocês têm!”

Era fácil discutir consigo mesmo. Era fácil ouvir as próprias racionalizações. Eram bem justificáveis. O difícil era entender, engolir a sensação fria de ciúmes. Sabia que Selton não lhe devia nada, mal devia amizade a ele. Não podia nem pedir que se afastasse de Débora, porque, afinal de contas, não sabia que Rafael tinha sentimentos por ele e seria, até mesmo, explicar o que se passava em sua cabeça. E quão absurdo isso soaria?... Rafael não via muitas saídas para aquele flerte que se seguia entre Selton e Débora, a não ser assistir calado.

Ou não...

Levantou-se de supetão de sua carteira e saiu a procura de Ana.

Talvez, se ficasse perto de Débora e Selton, pudesse “empatar” qualquer chance daquele flerte se tornar algo maior. Se a garota ia ao jogo, porque ele não podia ir também? Só que não queria ir sozinho.

Chegou ao pátio e rapidamente achou Ana e Selton, sentados numa mesa, conversando enquanto riam de alguma coisa.

- Do que vocês estão rindo? – Rafael perguntou quando chegou perto deles.

Ana e Selton trocaram um olhar.

- De você?

- De mim? Por quê?

- Nada. – Ana disse.

- Anda, fala.

- A gente só estava falando de como você é calado, na sua – Selton disse, mal conseguindo segurar o riso – Sacou?

Rafael olhou bem para Selton. Tudo que tinha “sacado” é que ele não estava falando a verdade. Mas não queria prolongar mais o assunto e se deu por satisfeito.

- Droga! A cantina está lotada! – ele reclamou, fingindo que tinha ido ali para comprar alguma coisa.

- Dá o dinheiro que eu compro lá.

- Não adianta! – Rafael disse – Vai demorar, do mesmo jeito. Eu vou lá.

- Dá o dinheiro aí e me fala o que você quer, que eu trago rapidinho!

- Sério, Rafa... Ele é O cara! – Ana disse

“Ok, Agora me diga uma coisa que eu já não saiba”, Rafael pensou.

Ana continuou sem perceber que o amigo tinha se distraído:

– Ontem, ele passou por cima de cinco caras, duas vezes maiores do que ele, e conseguiu a atenção daquela loirinha lerda que atende de vez enquanto, sabe? Se alguém pode conseguir seu lanche rápido, é o Selton!

- Passa o dinheiro, mano! – Selton falou, forçando a voz e apontando o indicador, como se fosse uma arma.

Rafael não agüentou e riu. Por fim, se convenceu.

- Um sanduíche natural e uma Coca lata.

- Qualquer sanduíche?

- Qualquer um, sem atum!

- Beleza – e sumiu com o dinheiro na mão.

Rafael viu Selton se afastar, quase correndo, admirado.

- Ele é uma figura – Ana falou, também indo da gracinha de Selton.

- Muito gente fina – Rafael completou, distraidamente.

- Ele falou a mesma coisa de você?

Rafael se espantou:

- Sério?!

- Sério.

Rafael flutuou, por um momento, viajando no que Ana havia dito. “Ele me acha gente fina. Será que isso significa alguma coisa?”

- Rafa, tudo bem? – Ana o interrompeu, antes que pudesse se repreender mentalmente for fomentar sonhos impossíveis.

- Sim – ele disse, rapidamente, grato por ter sido trazido de volta; afinal, tinha coisas mais urgentes pra resolver – Você está sabendo do jogo dos garotos, hoje à noite?

- Estou. A Débora me chamou pra ir com ela.

- O quê?! – Afinal de contas, até onde iam os dedos daquela garota?

- Éh! A gente vai às vezes, quando os garotos chamam. Nunca te chamei pra ir com a gente porque sei que você não gosta.

Rafael pensou rapidamente. Até que ela tinha razão em não tê-lo chamado. Ele teria recusado na hora, mesmo com muita insistência. Mas isso era passado.

- Que horas você vai descer, então?

Ana encarou bem o amigo, como quem tenta entender um louco:

- Espera? Você está me dizendo que vai?

- Aham! Vou. Por quê? É tão estranho assim?

- Rafael! Você odeia futebol! Você odeia esportes! Você não assiste Copa do Mundo, Rafael! É claro que é estranho!

Rafael ficou vermelho, envergonhado pelo modo enfático que a amiga falou.

- Mas você vai, a Débora. O pessoal todo vai estar lá, não vai? Então! Não vou pelo jogo. Vou pela... companhia. – Rafael explicou, incerto. Nem poderia acreditar no que estava falando.

- Sei... – Ana disse, nada convencida – Você tem agido muito estranho esses dias, Rafael. E não quer me dizer o que é...

- Aqui, Rafa – Selton tinha voltado com seu sanduíche, a Coca e o troco.

Rafael pegou as coisas abrindo as embalagens com cuidado para não se lambuzar de maionese.

- Foi rápido.

- Eu não disse. – Selton falou, todo cheio de si. – Do que vocês estavam falando?

- Eu estava perguntando pra Ana que horas ela vai descer para assistir o jogo de vocês?

Selton abriu um sorriso tão grande e tão feliz que poderia iluminar uma sala escura.

- Vocês vão? Ah! Eu sabia que você não ia me deixar na mão Rafa!

Rafael ficou impressionado com a empolgação de Selton. Ficou até um pouco constrangido por ser alvo de tanta atenção.

Seis – Ana

Selton e Ana tinham conseguido chegar a tempo no balcão da cantina, antes que ficasse intransponível e ficassem agarrados para sempre, antes de conseguir comprar alguma coisa pra comer. Ana pediu ao garoto da cantina um pacote de passatempo e Selton comprou uma garrafa de guaraná natural e a Fanta que Débora pedira. Depois que pagaram os produtos, procuraram um canto vazio para se sentarem e comerem.

Depois de engolir o primeiro biscoito e tomar um gole do guaraná, Selton perguntou a Ana:

- Ana, posso te perguntar uma coisa?

- Sobre a Débora? – Ana respondeu, rindo.

- Como você sabe?

- Era só questão de tempo...

- Está tão na cara assim?...

- Algumas coisas... O que você quer saber?

Selton hesitou. Ana era boa observadora – para ser amiga de Rafael, era um quesito básico saber observar mais do que ouvir. Ela podia ver em Selton, alguma relutância em falar; e não era vergonha ou embaraço.

- Ela é daquele jeito mesmo ou está me dando mole?

Ana tomou fôlego, enquanto pensava a melhor maneira de responder:

- Os dois. Ela é daquele jeito mesmo. Espontânea, meio atirada. O Rafa fala que se não fosse pelo batom e pela saia, ela seria um ótimo homem. Apesar disso ela é uma boa pessoa.

- O fato dela saber o que quer não faz dela, necessariamente, uma má pessoa.

Ana olhou para ele, surpresa.

- O quê?! Eu gosto de garotas com iniciativa – ele respondeu.

- Gosta mesmo?! Porque, se gosta, a Débora é a garota certa.

Selton sorriu, mas ele logo sumiu de seu rosto.

- É, mas agora não rola nada, não... – disse, vagamente.

- Por que, não?

Ana viu Selton hesitar outra vez, com a mesma expressão de quem tenta esconder alguma coisa.

- Ah! Não é nada, não. Só não quero apressar as coisas.

Ana olhou bem para o garoto. Sabia que aquela história era muito mais profunda, mas ao contrário do que fazia com Rafael – espremê-lo contra parede até obter a verdade – não tinha intimidade com Selton para insistir. Preferiu deixá-lo em paz.

- E você e Rafael são amigos há muito tempo? - Selton perguntou.

- Nossa! Muito tempo! Já deve ter uns sete anos que a gente se conhece.

- Ele é muito gente fina.

- É, sim!

- Só não é de falar muito.

Ana riu.

- Isso é verdade. O Rafa é mais na dele. Mas é um amigão. Conto com ele pra praticamente tudo.

- Vocês são só amigos mesmo? – Selton perguntou, com um tom malicioso.

Ana olhou para ele, com expressão de tédio:

- O que você já andou escutando por ai?

Selton arregalou os olhos:

- O quê?! Há alguma coisa pra escutar?

- Não! É que o pessoal mais antigo, que já estudou com a gente, cisma que num passado remoto a gente ficava. Alguns acreditam nisso até hoje. Mas o Rafael é só meu amigo. – Ana explicou - O pessoal inventa moda porque a gente passa muito tempo juntos, conversa demais. Nós temos uma afinidade fora do comum.

- E nunca rolou nada mesmo? Nem selinho de criança? – Selton insistiu.

- Não!

- Mesmo com essa afinidade fora do comum?

- Não! Entre eu e o Rafa só há amizade. Se fosse pra rolar alguma coisa já teria acontecido há muito tempo! As pessoas vêem malícia onde não existe.

- Sei bem como é isso. Mas não incomoda, não, esses boatos?

- Eu nunca esquentei, mas o Rafa fecha sempre a cara quando alguém fala alguma coisa.

Selton pensou um pouco:

- Vai ver porque é verdade...

- Ah! Eu teria que ser muito estúpida pra não notar isso! Uma garota sempre sabe quando alguém gosta dela.