Rafael conseguiu se acalmar um pouco e se desvencilhou do abraço da amiga, se sentindo muito mais estável, agora.
- Você já ficou com algum garoto?
- O quê?! - espantou-se. - Não!
- Não ficou por que não teve oportunidade ou por que ficou com medo?
- Os dois! O que aconteceu com o “não queria invadir seu espaço”???
Ela sorriu mais uma vez:
- Agora que você me contou, fiquei curiosa, só isso! E ver um garoto, digamos, ao natural?
O conforto que ele conseguiu estava se esvaindo. Seu rosto corava a medida que ficava mais encabulado.
- Bem, eu vi os meninos, no vestiário, depois das aulas de educação física.
Ela gargalhou.
- Faço uma idéia de como você fica! Eles são bem gostosinhos!
- Para com isso! Não tem graça!
- Tem sim!
Rafael não riu.
- Desculpa. Mas você nunca provocou nenhuma oportunidade de ficar a sós com um cara?
- Não!
- Nem pela Internet?
- Não! Não tenho coragem de conhecer ninguém pela Internet! Como vou conhecer alguém que está em outro lugar da cidade que eu nunca vi na vida?
- Não dá pra ser paranóico desse jeito, né, Rafa. Tem que ser cuidadoso, é claro, mas nem todo mundo que quer conhecer alguém pela net é o bicho papão! Tem milhares de outros garotos na sua situação: morrem de vontade de experimentar ficar com outro carinha, e a net ajuda.
- Não faz meu estilo. Além do que, no momento só uma pessoa importa. Ou importava...
Ana sentiu que o assuntou ficou pesado.
- O que você vai fazer agora?
- Bem, não posso fazer muita coisa a não ser aceitar, não é mesmo?
- Vá a luta!
- Ficou maluca de vez?! - gritou - Não sei se você percebeu, mas o Selton é hétero! E bem hétero, pra ser sincero! Ele pegou a Débora!
- Aquilo foi uma ficada! Só isso! Até você já ficou por ficar!
- Alô! Ainda não deu pra notar o principal: ele é heterossexual! Gosta de garotas, curvas, seios e pele lisa! E eu não tenho nada disso!
- Você nunca investiu, nunca perguntou, nunca agiu! Como pode afirmar isso?
Rafael começou a ficar irritado:
- Você não viu a cena na piscina?! Viu aquele beijo?
- Vi! Mas isso não quer dizer nada, Rafa!
- Deus! E se significasse, eles já estariam casados!
Ana despiu-se da roupa de amiga animadora e admitiu:
- Você tem razão.
- Ó único jeito é aceitar e agüentar o que vier pela frente.
- Ah! Não acho que os dois vão começar um relacionamento estável. Ela não faz esse tipo.
- Nem ele - disse se lembrando da primeira conversa que tiveram - Mas sou amigo dele, vou ter que agüentar seus comentários da ficada, do que gostou, do que não gostou, de como é o beijo dela...
- Eu vou te avisar o óbvio, mas ele é um garoto. Conversas desse tipo, só as meninas têm!
- Quem me dera! Ele vai falar que ela é muito gostosa, que beija muito bem, que fez e aconteceu!
- Ele não faz esse tipo, não é de contar vantagem! Talvez ele faça um ou outro comentário, mas não vai se prolongar muito nisso. Foi apenas uma ficada!
- E se não for?
Ela parou e pensou. Não achou resposta alguma.
- Eu sinto muito, mas vou estar sempre do seu lado.
Rafael suspirou.
- Não quero voltar pra festa. Queria ir embora, queria desaparecer.
- Se você se trancar aqui em cima, o pessoal vai desconfiar de alguma coisa e os comentários maldosos podem aparecer.
- Não tenho mais vontade de participar da festa!
Foi a vez de Ana suspirar, procurando paciência.
- Então vou ficar aqui em cima com você.
- Não! Vá curtir a festa! Você não tem nada a ver com meus problemas!
- Sim, eu tenho! Você é meu amigo! E se eu ficar aqui, espantamos qualquer chance de alguém começar um comentário maldoso sobre você ter ficado com ciúmes do Selton!
- Não entendi...
- Eu e você sumimos da festa de repente! O que acha que o pessoal vai falar?
- Que viemos aqui pra cima para ficarmos! Você não se importa?
- De falarem que fiquei com você? Se fosse me importar já estaria maluca! E podemos colocar os assuntos em dia.
- Você não existe.
- Obrigada.