domingo, 11 de julho de 2010

Dezesseis - Indo À Baixo

Era como descer uma montanha-russa sem fim. O estômago congelou no ato! Tudo ficou silencioso, tudo perdeu o sentido. Suas pernas fraquejaram e por pouco não desmoronou, seus braços formigaram, seu rosto se contraiu todo. Aliás, seu corpo todo se contraiu.

O beijo era lindo, típica cena de filme. Os dois na piscina, o reflexo do sol na água ondulando sobre suas peles, o cabelo de Débora todo colado ao corpo, as bocas pareciam que iam se engolir mutuamente.

Todo mundo gritava incentivando, afinal, ele era novato e já tinha se dado bem com uma das garotas mais bonitos do colégio! Todos menos Rafael. Ele não conseguia dizer nada, não conseguia pensar em nada a não ser em Selton, ficando ali, na frente dele. O cara por quem ele era fissurado, beijando uma garota bem na sua frente. Sentiu seu coração apertar dentro do peito.

Rafael recobrou alguma reação. Só podia pensar em sair dali o quanto antes. Deixar aquela cena para trás, esquecer que a viu. Sem se dar conta, subiu em direção à casa, passando por vários colegas que sequer prestaram atenção nele. A única pessoa que o parou foi Guilherme que trombou nele na porta da sala. Foi tão repentino que Guilherme não teve nem tempo de fazer sua cara sarcástica.

- O que houve, Rafael? – ele perguntou, genuinamente preocupado.

- Agora não, Guilherme! – Rafael gritou, empurrando-o.

Ele simplesmente subiu para o segundo andar da casa, onde sabia que não havia ninguém. Entrou primeiro quarto que encontrou e fechou a porta.

Naquele quarto, não havia tanto barulho. A música alta fazia a parede pulsar e as vozes dos amigos podia ser ouvida, eram apenas um burburinho distante. Felizmente, os dois beliches e a cômoda faziam o som ficar abafado.

Sentiu-se frio, por dentro, vazio. Encarar o que viu na piscina era pavoroso, dava medo. Já tinha sentido aquilo antes, por garotas que havia se apaixonado, mas não as conquistara e ficara “chupando dedo”. Agora era muito mais intenso, o sentimento de derrota era mais esmagador. Sentiu o choro apertando a garganta e inundando os olhos. Uma parte dele queria culpar Selton. “Por que ele fez isso?”, mas compreendeu em um instante que não tinha motivos para culpá-lo, Selton não devia nada a ele, a não ser a amizade. E Rafael sabia que aquilo podia acontecer. Na verdade, não era nem uma questão de possibilidade, era questão de quando aconteceria. E não haveria ocasião mais

Nada o faria aceitar aquela cena. A tristeza era imensa. Compreender que Selton não devia nada a ele, não significava absolutamente nada para o seu coração! Mais do que nunca estava sozinho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário