quinta-feira, 15 de julho de 2010

Vinte e Cinco - De Volta Pra Casa

A festa já estava acabando, o som alto tinha acabado e a única música que Rafael ouvia vinha do violão de Gustavo, ele tocava várias e várias músicas do Legião Urbana – quase obrigatórias pra quem toca violão. Todo mundo já recolhia suas coisas para ir embora e limpar a bagunça que tinham feito na granja.

Rafael relutou muito, por dentro, para sair daquele quarto. Seguindo a idéia de Ana, ele saiu por último, o que daria a impressão de que estavam tentando disfarçar, inutilmente uma ficada. Fingir culpa, pra ser mais específico.

Logo, que chegou no quarto onde as bolsas estavam guardadas, Selton, Danilo e Bernardo já voaram em cima dele.

- Cara, você sumiu a festa toda. Você e a Ana! O que estavam fazendo, hein? - perguntou Bernardo.

Ele ficou meio assustado com o modo como foi abordado.

- Nada, estávamos lá em cima, conversando.

- Conversa demorada essa! - disse Danilo.

- Ah! Vocês não vão começar, né?! Já falei que eu e Ana somos apenas amigos.

- Ah, cara, pára com essa história! Todo mundo percebeu que vocês saíram “juntos”! Não tem problema admitir que vocês se pegam de vez em quando!

- Nós não nos pegamos! - disse, impaciente - Já disse que estávamos lá em cima, conversando, por que não daria para fazer isso aqui embaixo, já que estava o maior tumulto!

Bernardo e Danilo se entreolharam.

- Vocês queriam um lugar mais calmo, pra “conversar”. Entendemos - eles disseram com um tom bem irônico.

Aparentemente, o plano de Ana estava funcionando muito bem. Por mais que aquilo afastasse qualquer comentário maldoso, não podia deixar de se irritar por todo mundo falar que ficara com sua melhor amiga. Mas no fim das contas, se a própria Ana não estava se importando, ele também não o faria.

- Selton, vai demorar muito ainda? – ele perguntou.

- Não, não. Só trocar de roupa.

- Ok. Vou avisar a Ana.

- Beleza. Aqui, a Débora vai descer com a gente.

Rafael engoliu em seco. Como se já não bastasse ter visto a ficada dos dois na piscina, ainda teria que suportá-la no ônibus. Definitivamente, não era o seu dia.

- Sem problemas – mentiu.

Quando ia saindo, ouviu Bernardo comentar com Selton.

- Ow, vocês dois mandaram muito bem hoje! O Rafael pegou a Ana e você pegou a Débora, as duas mais gostosas da turma.

Sentiu um aperto no peito. Não queria passar por nada daquilo.


Vinte e Quatro - Ordem

Alex subiu os andares do prédio de Rodrigo. Estava animado porque algumas coisas eram, como o cometa Harley, só aconteciam depois de muito tempo. Naquele sábado, que não tinha nada de especial, ele foi convidado por Carla para uma festa de uma amiga. Alex que sabia que Rodrigo não ficava com ninguém há muito tempo, achou que seria a oportunidade perfeita para arranjar uma garota, assim ficaria mais fácil de saírem juntos, já que ele não teria que ficar com o papel constrangedor de vela.

Bateu à porta do pequeno apartamento e ouviu lá de dentro:

- Já vai!

- Anda logo, soldado!

Mais uns momentos e Alex ouviu o barulho da chave.

- Fala, cabo – disse, apertando-lhe a mão. Vestido apenas de cueca, Rodrigo estava cansado, esgotado, amuado. Não. Era mais que isso – Entra.

- Que isso, cabo? Foi atropelado por um caminhão? Você está acabado!

- Nada! Só uma noite mal dormida.

- Ih, soldado! Anima aí! Tenho uma festa pra gente ir, cheia de gatinha pra você pegar.

Rodrigo virou para o amigo, com uma expressão desanimada.

- Sinceramente, cabo. Não estou com clima pra festa, não? – e realmente estava cansado demais para festa, mulheres. Tenente Gomes tinha esgotado todas as suas forças.

- Fala sério, soldado! Faz quanto tempo que você não sai pra pegar mulher? Faz quanto tempo que você está na seca?!

“Quatro horas...”, Rodrigo pensou.

- Sério, cabo. Estou animado, não – Rodrigo foi à geladeira e pegou um copo de leite.

- O que está acontecendo, soldado? Já faz um tempo que você anda pra baixo.

“Você também estaria pra baixo, se um cavalo estivesse te comendo como se você fosse uma prostituta barata e ele fosse embora sem mal dizer um tchau!”

- Nada.

- Vamos, soldado. Coloca uma calça, uma camisa e o tênis! Vamos, logo! É uma ordem! – Alex disse, puxando o amigo pelo braço e o empurrando para o quarto, sem se importar com o copo de leite cheio em sua mão – Enquanto você se arruma, eu vou tirar uma água do joelho.

Rodrigo suspirou cansado. Pela primeira vez na vida, sentiu o toque de Alex sem que sua pele se arrepiasse. Não por falta de atração ou porque sentisse alguma coisa por Gomes. Era puro desânimo.

Pegou uma calça jeans qualquer no pequeno guarda-roupas e um par de meias na gaveta embaixo da cama. Quando estava pegando o par de tênis, Alex apareceu na porta do seu quarto.

- Ah! Seu safado! Agora eu sei porque você anda esgotado! – ele disse, com um sorriso maroto – Quem que você anda traçando?!

- O quê?!

Foi então que ele viu Alex segurando pelas pontas dos dedos (quase pelas unhas) a camisinha amarrotada, ainda cheia de sêmen. “Puta que pariu!”, Rodrigo pensou. “Ele acha que eu usei essa camisinha!”

- Cara, larga isso!

- Fala, soldado! Com quem você usou essa camisinha!

“Você não faz idéia...”

- Uma garota aí, cabo! Agora larga esse troço!

- Ela deve ser muito gostosa, porque você gozou pra caralho aqui dentro! – Alex zoou, achando ainda mais graça da vergonha estampada na cara do amigo, sem imaginar o tamanho do equivoco que estava cometendo.

- Joga isso fora, cabo!

- Ok. Mas só porque já está ficando nojento – e voltou ao banheiro – Quem é ela, soldado? – Alex perguntou enquanto lavava as mãos.

- Já disse, cabo – Rodrigo respondeu, aliviado – Uma garota aí.

- Garota de programa?

- Não, cabo.

Alex voltou do banheiro e se encostou na porta, esperando o amigo terminar de se arrumar.

- Fala mais, soldado. Ela é gostosa?

Rodrigo pensou:

- Éh! Muito! – respondeu, cortando o amigo. Tinha terminado de colocar a camisa – Vamos, cabo. Já estou pronto – esperava que Alex parasse com o interrogatório, pois não queria falar mais de sua vida sexual.

Vinte e Três - Suporte, parte II

Ana e Rafael ficaram trancados no quarto o resto do churrasco, sofrendo com a fome, com a sede e, por fim, com o tédio. Conversaram sobre vários assuntos cabeludos, até um que Rafael jamais poderia imaginar:

- Sabe, eu não fui muito justa com você - disse Ana.

- Como assim?

- Teve uma coisa que eu não te contei.

- O quê? - interessou-se, de repente. Tinha que ser algo bem secreto pra Ana não compartilhar com ele! Uma vez ela praticamente o arrastou para fazerem compras e ela ficou escolhendo lingerie na frente dele. Entende-se que comprar roupas íntimas é uma coisa bem... íntima.

- Eu já fiquei com o Júlio.

- Com o Júlio?! - aquilo era, definitivamente, uma bomba!!! – Aquele seu primo cafajeste?!

- Há alguns meses. Ele insistiu tanto que acabei ficando.

- Mas você diz que ele é um safado! Nunca imaginei que você fosse fazer isso!

- E eu realmente acho que ele é um cafajeste! Mas convenhamos, ele é muito gostoso!

- Isso é fato.

- Você também acha? - questionou Ana, achando a frase do amigo intrigante e engraçada.

Rafael conseguiu, ao menos, rir de verdade:

- Isso você não reparou: sempre que ele aparece, dou um jeito de sumir. É difícil me controlar perto dele.

- Eh! Isso eu realmente nunca reparei.

- Então, como foi?

- Nossa! Foi muito bom! O melhor cara que fiquei, disparado! Pena que não tem caráter nenhum e é um mulherengo incorrigível - disse, mas não se importava mesmo.

- É apenas impressão minha ou essa conversa foi estranha.

- Não achei! Acho que vou gostar de vê os garotos de outro ângulo.

- Como assim?

- Ah! Nada mais óbvio. Garotas vêem garotos de um jeito. Garotos que gostam de garotos os vêem de outro jeito. Vai ser interessante ter essa perspectiva por perto.

- Você é meio estranha - comentou.

- Ah! Agora, a estranha aqui sou eu?

- Pra ser sincero, Ana, eu tenho tentando esquecer essa história?...

- Que história? De gostar do Selton...

- Do Selton, de garotos... A sensação que tenho é que isso só vai me trazer sofrimento.

- Do que você está falando, Rafa?

- Ah! Ana! É tão complicado gostar de homem! Ter que ficar guardando esse segredo, sem contar pra ninguém, com medo que as pessoas me humilhem, me discriminem. Pra não falar de como ficar com um homem, como começar um relacionamento com um...

- Rafael, por favor! Para com esse papo de auto-piedade – Ana exclamou – Ficar com qualquer pessoa, começar e sustentar um relacionamento com qualquer pessoa é complicado demais! Não importa qual sexo!

- Mas com homem é tudo mais complicado! O segredo, o medo... Parece tão solitário.

- É solitário, porque você não conheceu ninguém, está contando pra mim agora! Prefere alimentar seus medos do que arriscar! Não negue quem você é de verdade, Rafa, só porque as coisas ainda não começaram a acontecer! Só porque você não se empenhou em fazer as coisas acontecerem!

- Eu ainda não tenho certeza se é isso que sou.

- Claro que não sabe, Rafa! É o que eu estou dizendo! Você só ficou com garotas, mas eu sei que você gosta, não só do Selton, mas de garotos de uma forma geral!

Rafael pensou no que Ana estava lhe dizendo, ou tentando dizer. Era estranho como ela podia ter razão

Vinte e Dois - Casal

Selton estava mergulhado não apenas em água. Sentia seu corpo inundado pelo calor familiar de ter seu corpo prensado por de outra pessoa. Ele e Débora já estavam na piscina a mais de meia-hora sem fazer nada a não ser trocarem beijos intensos. As outras pessoas procuravam até se afastar, afinal, ninguém queria ficar de vela, principalmente quando o casal parecia não querer companhia.

Débora tinha um beijo gostoso, era o tipo de pessoa que se entregava ao beijo de verdade, não tinha medo de errar, de exagerar ou de se intimidar. Sua boca era macia, lábios quentes e uma língua incrivelmente flexível. Selton raras vezes beijara alguém com tanta vontade quando Débora. E ele também não tinha feito feio. Quando interromperam um beijo bem dado, ele a observou por alguns instantes e ela ainda estava de olho fechado, como quem ... sonha acordado. Seus beijos tinham esse efeito.

- E aí?... - ele perguntou, sorrindo, enquanto a segurava pela cintura e a arrastava suavemente pela água. Ele já tinha ficado com várias pessoas ao longo da sua juventude, mas nunca sabia o que dizer depois do primeiro beijo.

- “E aí” o quê? – Débora perguntou de volta, abrindo os olhos faiscantes, encarando com a mesma intensidade felina de antes.

- Foi tudo o que você esperava?

Seu sorrido esticou ainda mais.

- Foi tudo e mais um pouco.

- Valeu a pena esperar?

- Sempre vale à pena.

Selton sorriu e a beijou outra vez, um beijo suave, mas firme. Enquanto curtiam o beijo, de olhos fechados, algum espírito de porco decidiu perturbá-los. De repente, uma onda os molhou de cima a baixo quase afogando os desavisados. Rapidamente recuperaram o fôlego e tirar a água dos olhos. Quando viram, era Gustavo que tinha pulado com tudo na piscina,levantando água para todos os lados.

- Porra, cara! – Selton gritou – Sacanagem.

- Sabe aquela história de jogar água fria... então! Vão fazer outra coisa pessoal!

- Por que você não vai arranjar alguém pra beijar na boca, hein?

- Cara, eu bem que estava tentando, mas a Ana me deu um perdido. E não consigo achar ela de jeito nenhum.

- Claro, por que essa é uma granja muito grande – Débora caçoou – Já olhou na casa?

- Já! Só se ela estiver no andar de cima. Mas o que ela ia fazer lá?! Nada!

- Por falar em Ana. Eu tinha que achar o Rafa. Falei que ia pegar um copo de cerveja pra ele e até agora nada! – Selton disse, nadando para a borda, e saindo da piscina.

- Cara, você vai deixar a mina aqui pra pegar cerveja pra macho?! – Gustavo gritou – Só pode ser brincadeira, néh?!

Selton chamou Débora na beirada da piscina, quando ela chegou, ele se agachou, segurou-a pelo queixo e deu-lhe um beijo.

- Brows before whores – ele disse.

Quando a informação chegou no cérebro de Débora ela deu vários tapas no garoto, que saiu correndo, gargalhando da brincadeira.

Selton desceu a pequena elevação do terreno que levava à parte do jardim em que Rafael estava jogando “toquinho” com o pessoal. Olhou de longe a rodinha, mas Rafael não estava jogando. “Ele deve ter ido pegar a cerveja dele”, pensou. Voltou em direção à churrasqueira, onde estava montada a maior parte da comida, bebida, pratos, talheres e copos. Muitos já estavam servindo o almoço com arroz branco, farofa e vinagrete, fora, claro, a carne. Quando viu aquele monte de comida, sentiu seu estomago doer, mas queria achar Rafael, não só por causa da cerveja, obviamente; queria contar ao amigo que tinha finalmente ficado com Débora. Ele não era de ficar contando vantagem, mas precisava contar ao melhor amigo.

Rafael não estava se servindo também. Diego chegou ali perto para se servir de cerveja e Selton aproveitou para perguntar:

- Cara, você viu o Rafael?

- Rafael? Não... Aliás, já tem um tempo que ninguém o vê.

- Nem ele, nem a Ana – Bernardo disse, pegando uns pedaços de carne e comendo – Devem ter achado um canto mais tranqüilo para ficarem à sós.

- Pra ficarem?! – Selton disse – Não! Eles são só amigos!

- Amizade colorida! Só se for! Os dois somem assim, no meio da festa, sem que ninguém perceba?! Boa coisa não é! Aliás... deve ser mesmo muito boa.

A habilidade das pessoas de saírem dizendo as coisas sem saber o irritava profundamente. Dias atrás Bernardo estava rindo, dizendo que Rafael era gay; agora, argumentava fervorosamente que ele estava ficando com Ana. Percebeu que tinha que tomar cuidado com o que ele falava, porque provavelmente era só invenção da cabeça dele ou de outra pessoa.

De repente, um corpo molhado e frio o abraçou por trás, envolvendo os braços em sua cintura e beijando sua nuca.

- Demorou – Débora disse.

- Ih! Já está assim? Buscando o cara quando ele demora muito? – Bernardo zoou –Cuidado em Selton!

- Vai encher o saco de outro, vai, Bernardo – Débora respondeu, irritada – Só vim buscar o que é meu por direito: um beijo.

Ela deu um beijo em Selton que o deixou até assustado; intenso, molhado, aberto, quase como se quisesse engoli-lo. Às vezes que Selton recebeu um beijo daquele foram entre quatro paredes, quando as coisas estavam prestes a pegar fogo. Quando ela terminou o beijo, foi a vez dele ficar de olho fechado, viajando, sentido todo o corpo arder. Abriu os olhos e a viu com um sorriso diabólico, e Diego e Bernardo constrangidos.

- Éh... com licença – Diego disse, saindo rapidamente com seu copo cheio.

- Arruma um quarto, gente – Bernardo reclamou e também saiu.

Débora ficou olhando os dois se afastarem, mordendo o lábio enquanto sustentava aquele sorriso maligno de satisfação.

- Você só me deu esse beijo pra calar a boca do Bernardo? – ele perguntou.

- Também – ela disse, sorrindo.

Selton murmurou:

- Hmmm

- Não fique ofendido. Veja como um elogio...

- Vou tentar. Mas aqui, quero te perguntar uma coisa.

- Pergunte – ela disse, pegando um pedaço de carne que tinha acabado de sair da churrasqueira.

- Você sabe qual a verdadeira história entre o Rafael e a Ana?

- Os dois são só amigos – ela respondeu rapidamente – Qualquer outra coisa que você ouvir além disso é imaginação das pessoas.

- Então tem alguma coisa acontecendo, porque os dois sumiram do churrasco.

- Ah! Normal. Eles devem estar lá em cima fofocando. Quando os dois decidem conversar, não há quem os separe. Daqui a pouco eles voltam pra festa.

- Sei lá... sumiram sem falar nada... será que não aconteceu alguma coisa séria?

- Não! Se fosse alguma coisa séria a gente saberia.

Selton concordou, pouco convencido. O sumiço repentino do amigo o preocupara.

Vinte e Um - Interesse

Terminaram o delicioso almoço, e enquanto seguiam para o carro de Pablo, que estava estacionado ali perto. Quando chegaram, ele a chamou para darem uma volta.

- Eu não posso, Pablo. Ainda tenho muita coisa pra fazer – ela disse.

- Com certeza, tem! Mas faz quanto tempo que você não sai pra se divertir.

- Eu saio pra me divertir – Sueli mentiu – Muito, aliás.

- Sério? Já que você se diverte tanto, porque está dando atenção a um “garoto”? – Pablo inquiriu.

Sueli hesitou:

- Não é porque eu estou entediada. Só...gosto da sua companhia.

- Vamos... a gente dá uma volta num shopping, conversa... A gente tem um bom papo, não tem?

- Sério, Pablo – Sueli o interrompeu, claramente incomodada com a insistência - Tenho muito trabalho pra fazer ainda. E já não sei se ter saído com você foi uma boa idéia.

Pablo parou, sentindo a força das palavras de Sueli, como quem se depara com uma caixa mais pesada do que pode carregar.

- Desculpe se fui inconveniente. É que, como você disse, gosto da sua companhia – ele disse, abaixando a cabeça, enquanto procurava as chaves no bolso.

- Você deveria estar procurando a companhia de alguém da sua idade, Pablo! Ou acha que não percebi que você está interessado em mim, que esses cafezinhos e almoços são puramente amigáveis?!

- Não nego que estou. Mas o que isso tem a ver com idade, Sueli? – Pablo argumentou.

- Você deve ter a idade do meu filho mais velho, Pablo! Percebe como isso é estranho?

Pablo estava prestes a responder, quando parou para pensar no que ela tinha falado.

- Espera. Você também está interessada em mim... – deduziu.

- O quê?! Do que você está falando?! – Sueli disse, desconcertada.

- Você não disse que não está interessada em mim. O único empecilho é a diferença de idade.

“Maldito advogado!”, Sueli pensou, arrependida de falar sem pensar.

- Não alimente falsas esperanças, Pablo. Você é um rapaz bonito, inteligente, bem sucedido. Deveria procurar alguém com quem tenha chances reais.

Sueli esperou resposta. Qualquer resposta. Ela não veio. Pablo a mirou com um olhar tristonho, enfiou a chave na porta do carro e sentou no banco do carona. Sueli suspirou, cansada daquela discussão, arrependida de ter dado trela para um garoto. Ajeitou sua bolsa no ombro e saiu pela rua, pensando em pegar um ônibus ou um táxi.

- Ei! Onde você vai, Sueli?! – Pablo saiu do carro e gritou quando percebeu que ela estava indo embora.

- Vou embora.

- Me deixa pelo menos te levar pra casa!

- Não precisa, Pablo. Obrigado pelo almoço.

- Espera! – Pablo pediu. Ela não lhe deu atenção. Ele ainda podia ir atrás de Sueli, mas também não sabia se queria sua companhia naquele momento.