Selton estava mergulhado não apenas em água. Sentia seu corpo inundado pelo calor familiar de ter seu corpo prensado por de outra pessoa. Ele e Débora já estavam na piscina a mais de meia-hora sem fazer nada a não ser trocarem beijos intensos. As outras pessoas procuravam até se afastar, afinal, ninguém queria ficar de vela, principalmente quando o casal parecia não querer companhia.
Débora tinha um beijo gostoso, era o tipo de pessoa que se entregava ao beijo de verdade, não tinha medo de errar, de exagerar ou de se intimidar. Sua boca era macia, lábios quentes e uma língua incrivelmente flexível. Selton raras vezes beijara alguém com tanta vontade quando Débora. E ele também não tinha feito feio. Quando interromperam um beijo bem dado, ele a observou por alguns instantes e ela ainda estava de olho fechado, como quem ... sonha acordado. Seus beijos tinham esse efeito.
- E aí?... - ele perguntou, sorrindo, enquanto a segurava pela cintura e a arrastava suavemente pela água. Ele já tinha ficado com várias pessoas ao longo da sua juventude, mas nunca sabia o que dizer depois do primeiro beijo.
- “E aí” o quê? – Débora perguntou de volta, abrindo os olhos faiscantes, encarando com a mesma intensidade felina de antes.
- Foi tudo o que você esperava?
Seu sorrido esticou ainda mais.
- Foi tudo e mais um pouco.
- Valeu a pena esperar?
- Sempre vale à pena.
Selton sorriu e a beijou outra vez, um beijo suave, mas firme. Enquanto curtiam o beijo, de olhos fechados, algum espírito de porco decidiu perturbá-los. De repente, uma onda os molhou de cima a baixo quase afogando os desavisados. Rapidamente recuperaram o fôlego e tirar a água dos olhos. Quando viram, era Gustavo que tinha pulado com tudo na piscina,levantando água para todos os lados.
- Porra, cara! – Selton gritou – Sacanagem.
- Sabe aquela história de jogar água fria... então! Vão fazer outra coisa pessoal!
- Por que você não vai arranjar alguém pra beijar na boca, hein?
- Cara, eu bem que estava tentando, mas a Ana me deu um perdido. E não consigo achar ela de jeito nenhum.
- Claro, por que essa é uma granja muito grande – Débora caçoou – Já olhou na casa?
- Já! Só se ela estiver no andar de cima. Mas o que ela ia fazer lá?! Nada!
- Por falar
- Cara, você vai deixar a mina aqui pra pegar cerveja pra macho?! – Gustavo gritou – Só pode ser brincadeira, néh?!
Selton chamou Débora na beirada da piscina, quando ela chegou, ele se agachou, segurou-a pelo queixo e deu-lhe um beijo.
- Brows before whores – ele disse.
Quando a informação chegou no cérebro de Débora ela deu vários tapas no garoto, que saiu correndo, gargalhando da brincadeira.
Selton desceu a pequena elevação do terreno que levava à parte do jardim
Rafael não estava se servindo também. Diego chegou ali perto para se servir de cerveja e Selton aproveitou para perguntar:
- Cara, você viu o Rafael?
- Rafael? Não... Aliás, já tem um tempo que ninguém o vê.
- Nem ele, nem a Ana – Bernardo disse, pegando uns pedaços de carne e comendo – Devem ter achado um canto mais tranqüilo para ficarem à sós.
- Pra ficarem?! – Selton disse – Não! Eles são só amigos!
- Amizade colorida! Só se for! Os dois somem assim, no meio da festa, sem que ninguém perceba?! Boa coisa não é! Aliás... deve ser mesmo muito boa.
A habilidade das pessoas de saírem dizendo as coisas sem saber o irritava profundamente. Dias atrás Bernardo estava rindo, dizendo que Rafael era gay; agora, argumentava fervorosamente que ele estava ficando com Ana. Percebeu que tinha que tomar cuidado com o que ele falava, porque provavelmente era só invenção da cabeça dele ou de outra pessoa.
De repente, um corpo molhado e frio o abraçou por trás, envolvendo os braços em sua cintura e beijando sua nuca.
- Demorou – Débora disse.
- Ih! Já está assim? Buscando o cara quando ele demora muito? – Bernardo zoou –Cuidado em Selton!
- Vai encher o saco de outro, vai, Bernardo – Débora respondeu, irritada – Só vim buscar o que é meu por direito: um beijo.
Ela deu um beijo em Selton que o deixou até assustado; intenso, molhado, aberto, quase como se quisesse engoli-lo. Às vezes que Selton recebeu um beijo daquele foram entre quatro paredes, quando as coisas estavam prestes a pegar fogo. Quando ela terminou o beijo, foi a vez dele ficar de olho fechado, viajando, sentido todo o corpo arder. Abriu os olhos e a viu com um sorriso diabólico, e Diego e Bernardo constrangidos.
- Éh... com licença – Diego disse, saindo rapidamente com seu copo cheio.
- Arruma um quarto, gente – Bernardo reclamou e também saiu.
Débora ficou olhando os dois se afastarem, mordendo o lábio enquanto sustentava aquele sorriso maligno de satisfação.
- Você só me deu esse beijo pra calar a boca do Bernardo? – ele perguntou.
- Também – ela disse, sorrindo.
Selton murmurou:
- Hmmm
- Não fique ofendido. Veja como um elogio...
- Vou tentar. Mas aqui, quero te perguntar uma coisa.
- Pergunte – ela disse, pegando um pedaço de carne que tinha acabado de sair da churrasqueira.
- Você sabe qual a verdadeira história entre o Rafael e a Ana?
- Os dois são só amigos – ela respondeu rapidamente – Qualquer outra coisa que você ouvir além disso é imaginação das pessoas.
- Então tem alguma coisa acontecendo, porque os dois sumiram do churrasco.
- Ah! Normal. Eles devem estar lá em cima fofocando. Quando os dois decidem conversar, não há quem os separe. Daqui a pouco eles voltam pra festa.
- Sei lá... sumiram sem falar nada... será que não aconteceu alguma coisa séria?
- Não! Se fosse alguma coisa séria a gente saberia.
Selton concordou, pouco convencido. O sumiço repentino do amigo o preocupara.
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