quinta-feira, 15 de julho de 2010

Vinte e Dois - Casal

Selton estava mergulhado não apenas em água. Sentia seu corpo inundado pelo calor familiar de ter seu corpo prensado por de outra pessoa. Ele e Débora já estavam na piscina a mais de meia-hora sem fazer nada a não ser trocarem beijos intensos. As outras pessoas procuravam até se afastar, afinal, ninguém queria ficar de vela, principalmente quando o casal parecia não querer companhia.

Débora tinha um beijo gostoso, era o tipo de pessoa que se entregava ao beijo de verdade, não tinha medo de errar, de exagerar ou de se intimidar. Sua boca era macia, lábios quentes e uma língua incrivelmente flexível. Selton raras vezes beijara alguém com tanta vontade quando Débora. E ele também não tinha feito feio. Quando interromperam um beijo bem dado, ele a observou por alguns instantes e ela ainda estava de olho fechado, como quem ... sonha acordado. Seus beijos tinham esse efeito.

- E aí?... - ele perguntou, sorrindo, enquanto a segurava pela cintura e a arrastava suavemente pela água. Ele já tinha ficado com várias pessoas ao longo da sua juventude, mas nunca sabia o que dizer depois do primeiro beijo.

- “E aí” o quê? – Débora perguntou de volta, abrindo os olhos faiscantes, encarando com a mesma intensidade felina de antes.

- Foi tudo o que você esperava?

Seu sorrido esticou ainda mais.

- Foi tudo e mais um pouco.

- Valeu a pena esperar?

- Sempre vale à pena.

Selton sorriu e a beijou outra vez, um beijo suave, mas firme. Enquanto curtiam o beijo, de olhos fechados, algum espírito de porco decidiu perturbá-los. De repente, uma onda os molhou de cima a baixo quase afogando os desavisados. Rapidamente recuperaram o fôlego e tirar a água dos olhos. Quando viram, era Gustavo que tinha pulado com tudo na piscina,levantando água para todos os lados.

- Porra, cara! – Selton gritou – Sacanagem.

- Sabe aquela história de jogar água fria... então! Vão fazer outra coisa pessoal!

- Por que você não vai arranjar alguém pra beijar na boca, hein?

- Cara, eu bem que estava tentando, mas a Ana me deu um perdido. E não consigo achar ela de jeito nenhum.

- Claro, por que essa é uma granja muito grande – Débora caçoou – Já olhou na casa?

- Já! Só se ela estiver no andar de cima. Mas o que ela ia fazer lá?! Nada!

- Por falar em Ana. Eu tinha que achar o Rafa. Falei que ia pegar um copo de cerveja pra ele e até agora nada! – Selton disse, nadando para a borda, e saindo da piscina.

- Cara, você vai deixar a mina aqui pra pegar cerveja pra macho?! – Gustavo gritou – Só pode ser brincadeira, néh?!

Selton chamou Débora na beirada da piscina, quando ela chegou, ele se agachou, segurou-a pelo queixo e deu-lhe um beijo.

- Brows before whores – ele disse.

Quando a informação chegou no cérebro de Débora ela deu vários tapas no garoto, que saiu correndo, gargalhando da brincadeira.

Selton desceu a pequena elevação do terreno que levava à parte do jardim em que Rafael estava jogando “toquinho” com o pessoal. Olhou de longe a rodinha, mas Rafael não estava jogando. “Ele deve ter ido pegar a cerveja dele”, pensou. Voltou em direção à churrasqueira, onde estava montada a maior parte da comida, bebida, pratos, talheres e copos. Muitos já estavam servindo o almoço com arroz branco, farofa e vinagrete, fora, claro, a carne. Quando viu aquele monte de comida, sentiu seu estomago doer, mas queria achar Rafael, não só por causa da cerveja, obviamente; queria contar ao amigo que tinha finalmente ficado com Débora. Ele não era de ficar contando vantagem, mas precisava contar ao melhor amigo.

Rafael não estava se servindo também. Diego chegou ali perto para se servir de cerveja e Selton aproveitou para perguntar:

- Cara, você viu o Rafael?

- Rafael? Não... Aliás, já tem um tempo que ninguém o vê.

- Nem ele, nem a Ana – Bernardo disse, pegando uns pedaços de carne e comendo – Devem ter achado um canto mais tranqüilo para ficarem à sós.

- Pra ficarem?! – Selton disse – Não! Eles são só amigos!

- Amizade colorida! Só se for! Os dois somem assim, no meio da festa, sem que ninguém perceba?! Boa coisa não é! Aliás... deve ser mesmo muito boa.

A habilidade das pessoas de saírem dizendo as coisas sem saber o irritava profundamente. Dias atrás Bernardo estava rindo, dizendo que Rafael era gay; agora, argumentava fervorosamente que ele estava ficando com Ana. Percebeu que tinha que tomar cuidado com o que ele falava, porque provavelmente era só invenção da cabeça dele ou de outra pessoa.

De repente, um corpo molhado e frio o abraçou por trás, envolvendo os braços em sua cintura e beijando sua nuca.

- Demorou – Débora disse.

- Ih! Já está assim? Buscando o cara quando ele demora muito? – Bernardo zoou –Cuidado em Selton!

- Vai encher o saco de outro, vai, Bernardo – Débora respondeu, irritada – Só vim buscar o que é meu por direito: um beijo.

Ela deu um beijo em Selton que o deixou até assustado; intenso, molhado, aberto, quase como se quisesse engoli-lo. Às vezes que Selton recebeu um beijo daquele foram entre quatro paredes, quando as coisas estavam prestes a pegar fogo. Quando ela terminou o beijo, foi a vez dele ficar de olho fechado, viajando, sentido todo o corpo arder. Abriu os olhos e a viu com um sorriso diabólico, e Diego e Bernardo constrangidos.

- Éh... com licença – Diego disse, saindo rapidamente com seu copo cheio.

- Arruma um quarto, gente – Bernardo reclamou e também saiu.

Débora ficou olhando os dois se afastarem, mordendo o lábio enquanto sustentava aquele sorriso maligno de satisfação.

- Você só me deu esse beijo pra calar a boca do Bernardo? – ele perguntou.

- Também – ela disse, sorrindo.

Selton murmurou:

- Hmmm

- Não fique ofendido. Veja como um elogio...

- Vou tentar. Mas aqui, quero te perguntar uma coisa.

- Pergunte – ela disse, pegando um pedaço de carne que tinha acabado de sair da churrasqueira.

- Você sabe qual a verdadeira história entre o Rafael e a Ana?

- Os dois são só amigos – ela respondeu rapidamente – Qualquer outra coisa que você ouvir além disso é imaginação das pessoas.

- Então tem alguma coisa acontecendo, porque os dois sumiram do churrasco.

- Ah! Normal. Eles devem estar lá em cima fofocando. Quando os dois decidem conversar, não há quem os separe. Daqui a pouco eles voltam pra festa.

- Sei lá... sumiram sem falar nada... será que não aconteceu alguma coisa séria?

- Não! Se fosse alguma coisa séria a gente saberia.

Selton concordou, pouco convencido. O sumiço repentino do amigo o preocupara.

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