segunda-feira, 21 de junho de 2010

Seis – Ana

Selton e Ana tinham conseguido chegar a tempo no balcão da cantina, antes que ficasse intransponível e ficassem agarrados para sempre, antes de conseguir comprar alguma coisa pra comer. Ana pediu ao garoto da cantina um pacote de passatempo e Selton comprou uma garrafa de guaraná natural e a Fanta que Débora pedira. Depois que pagaram os produtos, procuraram um canto vazio para se sentarem e comerem.

Depois de engolir o primeiro biscoito e tomar um gole do guaraná, Selton perguntou a Ana:

- Ana, posso te perguntar uma coisa?

- Sobre a Débora? – Ana respondeu, rindo.

- Como você sabe?

- Era só questão de tempo...

- Está tão na cara assim?...

- Algumas coisas... O que você quer saber?

Selton hesitou. Ana era boa observadora – para ser amiga de Rafael, era um quesito básico saber observar mais do que ouvir. Ela podia ver em Selton, alguma relutância em falar; e não era vergonha ou embaraço.

- Ela é daquele jeito mesmo ou está me dando mole?

Ana tomou fôlego, enquanto pensava a melhor maneira de responder:

- Os dois. Ela é daquele jeito mesmo. Espontânea, meio atirada. O Rafa fala que se não fosse pelo batom e pela saia, ela seria um ótimo homem. Apesar disso ela é uma boa pessoa.

- O fato dela saber o que quer não faz dela, necessariamente, uma má pessoa.

Ana olhou para ele, surpresa.

- O quê?! Eu gosto de garotas com iniciativa – ele respondeu.

- Gosta mesmo?! Porque, se gosta, a Débora é a garota certa.

Selton sorriu, mas ele logo sumiu de seu rosto.

- É, mas agora não rola nada, não... – disse, vagamente.

- Por que, não?

Ana viu Selton hesitar outra vez, com a mesma expressão de quem tenta esconder alguma coisa.

- Ah! Não é nada, não. Só não quero apressar as coisas.

Ana olhou bem para o garoto. Sabia que aquela história era muito mais profunda, mas ao contrário do que fazia com Rafael – espremê-lo contra parede até obter a verdade – não tinha intimidade com Selton para insistir. Preferiu deixá-lo em paz.

- E você e Rafael são amigos há muito tempo? - Selton perguntou.

- Nossa! Muito tempo! Já deve ter uns sete anos que a gente se conhece.

- Ele é muito gente fina.

- É, sim!

- Só não é de falar muito.

Ana riu.

- Isso é verdade. O Rafa é mais na dele. Mas é um amigão. Conto com ele pra praticamente tudo.

- Vocês são só amigos mesmo? – Selton perguntou, com um tom malicioso.

Ana olhou para ele, com expressão de tédio:

- O que você já andou escutando por ai?

Selton arregalou os olhos:

- O quê?! Há alguma coisa pra escutar?

- Não! É que o pessoal mais antigo, que já estudou com a gente, cisma que num passado remoto a gente ficava. Alguns acreditam nisso até hoje. Mas o Rafael é só meu amigo. – Ana explicou - O pessoal inventa moda porque a gente passa muito tempo juntos, conversa demais. Nós temos uma afinidade fora do comum.

- E nunca rolou nada mesmo? Nem selinho de criança? – Selton insistiu.

- Não!

- Mesmo com essa afinidade fora do comum?

- Não! Entre eu e o Rafa só há amizade. Se fosse pra rolar alguma coisa já teria acontecido há muito tempo! As pessoas vêem malícia onde não existe.

- Sei bem como é isso. Mas não incomoda, não, esses boatos?

- Eu nunca esquentei, mas o Rafa fecha sempre a cara quando alguém fala alguma coisa.

Selton pensou um pouco:

- Vai ver porque é verdade...

- Ah! Eu teria que ser muito estúpida pra não notar isso! Uma garota sempre sabe quando alguém gosta dela.

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