quinta-feira, 24 de junho de 2010

Dezessete - Formatar

Alex apertou o botão do controle remoto, pendurado no retrovisor e esperou o portão automático terminar de abrir para estacionar o carro na garagem. Desligou o motor e saiu, já discando o número da namorada; trancou o carro e acionou o alarme enquanto a chamada não era completada.

- Alô, meu anjo? Liguei pra falar que cheguei em casa. Aham! Vou, mas só mais tarde. O PC do meu irmão deu pau, aí ele pediu pra eu dar uma olhada. Eh! Lá pelas sete e meia, oito horas. Eu sei que é tarde, mas vou levar a farda; durmo aí e saio amanhã cedo, pode ser? Ótimo. Vou correndo te ver. Beijos. Até daqui a pouco.

Quando desligou o celular já tinha chegado em seu quarto e jogado a mochila na cama.

Diferente de Rafael – que parecia ser compulsivo por organização – Alex era mais relaxado; para um militar, ele era bastante bagunceiro. A mesa do computador era coberta de papéis, cds, e componentes de outros computadores; o chão estava repleto de roupas sujas e a cortina vivia fechada. Era como entrar numa floresta escura, cheia de obstáculos, sempre suspeitando de algum animal que pudesse avançar do nada! Mas quem disse que o incomodava. Tinha tudo o que precisava ao alcance e mesmo naquele caos diminuto sabia com precisão onde encontrar seus pertences.

Pra começar, tirou a farda e o coturno e vestiu um calção folgado. Preferia ir direto tomar banho, mas podia fazer isso enquanto reinstalava o Windows no computador do irmão; apenas pegou sua toalha, assim não teria que descer e podia tomar banho na suíte do irmão. Não chegou a ser exatamente uma surpresa perceber que Rafael não estava em casa e ainda não tinha dado a hora da mãe chegar. Talvez conseguisse sair antes que todos chegassem. Ligou o computador do irmão pra ver o que estava acontecendo e realmente, o Windows não carregava. Talvez estivesse corrompido. Colocou o cd de instalação e deixou o programa executar suas rotinas, vez ou outra dando um comando para que o processo continuasse. Quando sua parte havia terminado e o programa prosseguiria sozinho, Alex foi tomar seu banho.

Quando voltou, a instalação já estava perto de terminar, dando tempo para que fosse na cozinha comer alguma coisa, afinal, estava faminto. Arrumou um sanduíche de pão de forma com mussarela, presunto, alface e salame fatiado, com um pouco de mostarda e uma caneca de chopp cheia de suco de laranja e subiu, degustando seu sanduíche com prazer; como dizem: “matou quem o estava matando”. Terminado o lanche, pegou uma farda limpa no guarda-roupa e arrumou seu uniforme na mochila camuflada; abriu sua gaveta de tranqueiras, onde havia uma caixa de camisinhas. Tirou três e as guardou junto com a cueca e o par de meias. Já tinha quase uma semana que ele e a namorada não transavam, e já que os pais dela não ligavam de dormirem juntos, o melhor era aproveitar.

Ainda pensando na noite que teria com Carla, subiu ao quarto de Rafael pra ver como estava formatação. Ela tinha terminado antes do esperado, para a felicidade de Alex, que já estava ficando ansioso. Claro que transar com namorada não era a única coisa que passava pela sua cabeça, mas não tinha muito mais do que isso, não. Agora, só tinha que ajeitar algumas configurações do sistema, instalar uns programas básicos e passar um antivírus, pra ter certeza de que nada tinha ficado para trás.

Instalar os programas foi rápido, mas o escaneamento do antivírus demorou bastante. Mesmo que o sistema estivesse limpo agora, recém instalado, o irmão tinha muita coisa na outra partição do disco e como não queria correr riscos pela pressa, deixou o escaneamento correr, mesmo que fosse entediante.

Os endereços e arquivos passavam assustadoramente rápido na tela do antivírus, mas lento o bastante para Alex ler algumas coisas. Reconhecia extensões de fotos, música, vídeos, muitos executáveis, documentos de texto, provavelmente trabalhos de escola. Até que, num dado momento, começou a ler várias palavras seguidas, a maioria em inglês. Não que Alex entendesse muito de inglês, apenas o que lhe interessava, o que restringia muito as possibilidades. Uma delas: sexo.

- Ah! Irmãozinho... Sabia que tinha putaria nessa história.

E, enquanto, os arquivos passavam pela análise do antivírus, Alex tomou um susto quando leu a palavra “gay” várias vezes.

- Que porra é essa? – murmurou. Incrédulo.

Esforçou-se para ver qual endereço o antivírus tinha encontrado aqueles arquivos e o procurou no computador. Estava nos “Meus Documentos”, na pasta de vídeo. Havia aos montes. Vídeos e mais vídeos pornô. Alex foi abrindo um por um, surpreso, estarrecido. Só homens se masturbando, se chupando, transando. Não havia uma única mulher mostrando os peitos, a bunda, nada... Só sexo gay.

Alex desligou o player e se encostou na cadeira, chocado.

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