Selton abriu a porta com violência e entrou em casa batendo o pé.
- Idiota! – resmungou.
- Ei, Robinho! – Hugo o chamou, vindo da cozinha. Ele estava vestido com uma camisa de algodão bem leve, uma bermuda listrada e chinelos de dedo, um alivio confortável das horas que passava de terno e sapato fechado. Estava segurando um copo de iogurte de amora na mão e uma colher na outra - Sua mãe me falou que você já foi jogar bola com o pessoal do colégio, como foi?
- Foi bom, pai – ele respondeu, de cara fechada.
- Sério?! – perguntou, ironicamente – Não parece.
- Foi bom, sim, pai. Entrei numa dividida com um cara que quase quebrou minha perna, está doendo muito – usou a mesma mentira de antes - Só quero subir, passar uma pomada na perna e dormir.
- Entendi – Hugo disse – Mas você sabe que entrou sem mancar e nenhuma das suas pernas tem nem hematoma nem corte, não é?
Selton olhou para suas pernas e percebeu que tinha sido pego na mentira.
- Os outros não notaram...
- Vamos fazer o seguinte: eu finjo que você não tentou mentir pra mim, se me contar o que realmente aconteceu.
Selton olhou para o pai com um olhar desanimado. Embora fosse um acordo justo, ele não estava nem um pouco inclinado à falar.
- Eu só fui na onda errada dos outros e acabei falando o que não devia. Só isso.
- Não parece com você. Diferente do seu irmão, você não se deixa influenciar pelos outros.
- Não sei o que me deu, pai! E o pior é que, com as idéia erradas na cabeça, magoando o único amigo que tinha feito até agora.
- O que você falou? – Hugo perguntou, tomando um pouco do iogurte.
Selton engoliu a seco e ficou calado.
- Qual é?! Não pode ser tão ruim assim? – Hugo desacreditou.
- Pior de tudo é que é ruim, mesmo!
- Tão ruim que você não pode me falar?
- Não.
Hugo arregalou os olhos.
- Não sei nem como vou olhar no rosto dele amanhã. Não sei nem como pedir desculpas pelo que falei.
- Faça o seguinte: - Hugo disse, tranquilamente – Suba pro seu quarto, cuide dessa sua perna machucada e durma, esfrie a cabeça. Amanhã, você descobre como pedir desculpas.
Selton suspirou, resignado.
- Se ele quiser falar comigo.
- Tem que pelo menos tentar.
- Você está certo.
- Sei que estou... – Hugo disse, voltando pra cozinha, terminando seu iogurte de amora.
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