sábado, 31 de julho de 2010

Doze - Erro

Hugo não almoçara. Não tinha estômago pra comer nada. Mesmo que já tivesse brigado com Mônica centenas – se não, milhares – de vezes, ele não se acostumava. Não importava como a briga começasse, ela sempre terminava no mesmo assunto: Júnior, o filho transviado. Mesmo que o filho mais velho não ajudasse muito na convivência familiar, era ingenuidade culpá-lo pela instabilidade conjugal que Hugo e Mônica viviam. Suas brigas já datavam bem antes de Júnior nascer.

Agora viviam sempre em pé de guerra, qualquer coisinha virava motivo pra discutir e toda discussão acabava em Júnior. “Não me espanta que o garoto seja tão desajustado...”, pensou. Se Junior ouvia metade das brigas dos pais – e certamente ouvia – devia viver uma pressão tremenda, sendo sempre citado entre gritos e alguns insultos.

Ele sabia que tinha que mudar. Não podia continuar sustentando aquelas briguinhas com a mulher sem de fato mudar o que estava errado. A mudança pra uma cidade longe de Brasília tinha sido sua idéia, justamente, pra revitalizar a dinâmica familiar. Júnior, claro não teve direito de voto, mas Selton apoiou totalmente a idéia do pai. Aliás, Selton era, provavelmente, o integrante mais maduro da casa. Mônica, como era de se esperar, achava inviável sair de Brasília e queria tentar outras saídas; por exemplo, internar o filho. Tentaram, na verdade. Algumas vezes. Até que a situação se tornou insustentável e se mudaram pra Juiz de Fora.

Hugo não estava zelando apenas pelo bem estar do filho. Ele acreditava que sair de uma cidade grande e estressante faria bem para o seu casamento, para sua relação com Mônica que, apesar dos pesares, ainda era a mulher que ele amava. Na sua cabeça, ninguém se debateria daquela maneira, naquela situação crítica, se não amasse muito o cônjuge.

Ele só esperava que, na sua insistência, não estivesse cometendo um grande erro.

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