sábado, 31 de julho de 2010

Onze - Almoço Na Casa dos Moreira e Castro

Rafael e Selton desceram para almoçar, quando Alex gritou lá de baixo. Antes pararam no banheiro para lavarem as mãos e então se sentaram a mesa. Alex já tinha se servido e comia em silêncio. Quando o irmão caçula e o amigo passaram pela porta, ele levantou os olhos, sério. Seu olhar cravou-se assustadoramente em Selton.

Rafael percebeu que o irmão estava sério e perguntou:

- O que houve, Lex?

- Nada. Eu não arrumei nada não. Está tudo nas panelas. Podem ficar a vontade.

- Valeu – Selton respondeu.

Os dois pegaram um prato, cada, e passaram a se servir. A comida cheirava muito bem, estava bem quente, expelindo uma fumaça densa e acinzentada. Tinha arroz branco, feijão preto (clássicos), bife que parecia ser de picanha, frito com bastante molho inglês – do jeito que Rafael gostava – e a salada de alface com milho verde, ervilha e tomate. Rafael não era de comer muito e serviu de uma pequena porção de cada coisa. Selton, por outro lado, mesmo que tivesse sido instruído a se servir como quisesse, moderou um pouco. O que despertou a curiosidade de Rafael, mas ele nada comentou. Sentaram-se a mesa, um ao lado do outro. Rafael enchia um uma garfada, enquanto Alex os esquadrinhava.

- E então, pegaram alguma garota no churrasco, ontem? – Alex perguntou.

Selton encarou, Rafael, rapidamente, confuso, e respondeu, hesitante:

- Eu fiquei com uma garota.

- Gostosa?

Até Rafael achou estranho o interesse do irmão.

- Aham – Selton respondeu.

- O que deu em você, Lex?

- Puxando papo, só isso – mentiu.

O que Alex não confessaria era que estava sondando Selton, porque estava desconfiado. Desde que encontrara os vídeos gays no computador do irmão, estivera remoendo o assunto. Decidira ficar de fora e esperar que Rafael assumisse que era gay e com certeza não tocaria nisso. Mas aquela era a primeira vez que Rafael levava um amigo homem pra passar a noite – sem avisar a mãe ou ele mesmo. Era no mínimo intrigante.

- Eh, ela é gostosa, sim.

- É a Débora. Você sabe quem é – Rafael disse, entre os dentes, lembrando-se da cena dela e Selton na piscina.

- Você conhece a Débora?

- De nome e de foto. Vi uma vez no Orkut do meu irmão – Alex explicou rapidamente - E você, Rafa? Pegou alguém?

Antes que ele pudesse responder, Selton falou:

- Se ele pegou, ninguém sabe; mas ele ficou um bom tempo trancado com a Ana, num quarto.

- Selton! – Rafael gritou.

- Sério? – Alex perguntou, incrédulo – Fazendo o quê?!

- Ninguém sabe – Selton riu do desespero de Rafael.

- Então os dois mandaram bem ontem na festa?...

- Mandamos.

- Um de nós com certeza – Rafael resmungou.

- Ele jura que não deu uns pegas na Ana – Selton disse.

“Porque ele está fazendo isso?”, Rafael se perguntou.

- Já conheço essa história – Alex disse, sem dar muita atenção.

- Olá, meninos! – disse Sueli, aparecendo na porta da cozinha – Já vi que temos convidados.

A conversa de Alex e Selton distraiu tanto Rafael, que ele nem ouviu sua mãe chegar.

- Mãe, fala pra esses dois, de uma vez por todas, que eu Ana somos apenas amigos! – Rafael implorou, enquanto Sueli lhe dava um beijo no rosto.

- Ainda essa história, gente? Os dois são só amigos.

- Mas a gente falou que não eram?! Ninguém disse isso, dona Sueli.

- Selton, se você não parar de me chamar de “dona”, juro que vou te tirar esse prato de comida – ela ameaçou, mas não era sério.

- Ok, parei.

- Onde você foi, mãe? – Rafael perguntou, aliviado pela história ele/Ana ter acabado.

- Eu fui almoçar fora e depois fui na casa da Lúcia – ela omitiu deliberadamente que o almoço tinha sido com Pablo e que brigara com ele – Depois que caiu aquela chuva, não deu pra voltar pra casa.

- Eu disse – Selton falou, orgulhoso.

- É a segunda vez que você diz isso sabichão – Rafael disse.

- O Selton dormiu aqui, essa noite – Alex disse. Rafael notou que havia um quê de denuncia na voz do irmão.

- Sério? – ela perguntou, enquanto servia seu prato.

- Éh! A chuva começou a cair e não parou mais – Rafael disse - Aí falei pra ele ficar aqui e esperar a chuva passar.

- Fez muito bem – Sueli se sentou à mesa, ao lado do primogênito – Eu sei que ele mora do outro lado da rua, mas uma chuva daquelas ia molhá-lo todo em questão de segundos. Pra você ficar doente, não custaria muito.

- Eu tenho uma saúde de ferro – Selton se gabou – A última vez que fui ao médico eu tinha uns nove anos.

- Faça o que puder pra continuar assim. Isso inclui não sair no meio de tempestades – Sueli o advertiu.

- Pode deixar.

- E a festa de vocês ontem, como foi?

- Esse assunto de novo, não? – Rafael reclamou. Sabia que voltariam a falar dele e Ana, Selton e Débora. E Essa era a última coisa que queria ouvir. De novo.

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