domingo, 4 de julho de 2010

Quatro - Sono

Rafael subiu as escadas do colégio, com um sono irreal. Tinha dormido mais cedo na noite anterior e acordado quinze minutos mais tarde naquela manhã. Talvez o que diziam sobre “quanto mais se dorme, mais sono se sente” fosse verdade, afinal de contas.

Subiu se arrastando, quase empurrado pela massa em movimento de alunos atrasados. Por pouco não errou sua sala. Quanto entrou, quase todos já tinham chegado, inclusive Ana e Selton, que não esperou pela carona habitual de Sueli.

- Olha o Rafa aí! - Selton disse, apertando a mão do amigo sonolento – Guardei seu lugar – e tirou a mochila da carteira de trás.

- Valeu! – Rafael murmurou. Sem animo algum, ele jogou sua mochila na mesa e praticamente capotou na carteira, repousou a cabeça sobre os braços cruzados e lá ficou.

- Que foi, Rafa? Você está bem? – Ana perguntou.

- Não! Estou morrendo de sono – disse, sem levantar a cabeça.

- Não conseguiu dormir essa noite?

- Dormi! Mas ainda estou caindo de sono. Que aula vem agora?

- Física – Selton respondeu.

- Boa noite.

Ana e Selton trocaram um olhar confuso, sem entender direito o que estava acontecendo.

- Não! Acorda! Vai lá na cantina e compra uma Coca pra você acordar! – Selton disse, sacudindo o amigo.

- Não! – Rafael protestou.

- Anda, logo! – ele continuou sacudindo – Eu vou lá com você.

- Me deixa, Selton! Não vou aprender nada mesmo assistindo essa aula! - Selton não deu muita atenção. Continuou cutucando e sacudindo Rafael até que, irritado, ele desistiu e se levantou – Ah! Está bem, está bem!

Rafael foi rastejando, seguido por Selton, pelos corredores.

- Está me vigiando pra ver se não vou dormir no banheiro? – Rafael disse, ao perceber que o amigo estava ao seu lado.

- Êeh, mau-humor! Só vou comprar jujuba! – Selton se defendeu.

- Foi mal, cara! – Rafael se desculpou – Eu não estou mesmo muito bem, hoje, não!

- Relaxa! Todo mundo tem mau-humor quando não dorme direito.

- O pior é que não dormi mal!

- Teve algum pesadelo? Sonho ruim?

- Não que me lembre.

- Fica frio. Daqui a pouco você desperta – os dois chegaram na cantina do colégio e Selton não deixou tempo para Rafael falar – Um drops daquela jujuba e uma Coca 600 – disse, entregando uma nota de dez reais.

- Eu estou com dinheiro aqui, Selton.

- Preciso de troco pro ônibus, Rafa. Aqui sua Coca – e entregou o refrigerante para ele.

Rafael rodou a tampa, e a pressão do gás fez aquele chiado característico.

- O que houve, Selton? - Rafael perguntou.

- Há! – Selton riu – Finalmente trocamos a frase. Geralmente, eu que perguntou “o que houve”.

- Você não está tentando me agradar por causa daquela briga estúpida que tivemos?

- Claro que não, Rafa! Isso é passado. Preciso mesmo do troco. Além do mais, qual o problema em ser legal com você? Principalmente depois que me ajudou a acompanhar a matéria?

“O problema é que estou tentado te esquecer! E ser gentil comigo não ajuda muito!”, Rafael pensou.

- Cara, se você ainda está pensando naquilo, pode esquecer!

- Já disse, Rafa. Só preciso de troco. – Selton disse, sorrindo, mostrando seus dentes perfeitamente brancos.

“Que sorriso...”

- Ok.

O sorriso de Selton sumiu, deixando seu rosto contraído.

- O que foi?

- Nada.

Confuso, Rafael procurou o que poderia ter feito o humor de Selton mudar; assim que se virou, deu de cara com Guilherme, que parecia ir na direção deles.

- Bom dia – Guilherme os cumprimentou.

Rafael e Selton apenas acenaram com a cabeça, só pra não dizerem que eram mal-educados. Guilherme pareceu não se importar com a antipatia dos dois ou fingiu não notar e continuou seu rumo em direção à cantina, enquanto Rafael e Selton voltavam para a sala.

Rafael estava tomando um gole da Coca, quando Selton estancou e disse:

- Vai indo pra sala, Rafa. Vou comprar outro negócio e já chego lá.

- O que houve? – Rafael perguntou outra vez.

Selton achou graça.

- Nada. Já chego na sala.

- Ok – Rafael não entendeu muita coisa, mas preferiu não discutir.

E voltou correndo em direção à cantina.

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