domingo, 4 de julho de 2010

Três - Ironia, parte II

- Você tinha razão – Lucas comentou chocado, depois de ouvir o relato do irmão sobre a noite em que jantara com o pai.

- Razão sobre o quê? – Guilherme perguntou, sem saber direito do que o irmão estava falando.

- Apreciei a ironia – respondeu, rindo – E foi bizarro também. Eu nunca poderia desconfiar do pai.

- Depois, ele me confessou que também não desconfiava. E logo e seguida disse que nunca se sentiu atraído por outro homem, até conhecer esse cara com quem ele está agora.

- Que, aliás, você não disse o nome.

- O pai também não.

Lucas encostou na árvore, olhando sério para o irmão.

- O que você pensa em fazer?

- Nada, oras. O que há pra se fazer?

- Você sempre faz alguma coisa, Guilherme. Está na sua natureza intervir quando alguma coisa não o agrada. Por isso ainda sente algo de culpa pela minha morte.

- Não sinto culpa! – Guilherme disse, entre os dentes.

- Mentiroso – Lucas rebateu.

- Sorte sua você ser fruto a minha imaginação, ou juro que e daria uma coça.

- Você não tem certeza disso! – Lucas continuou com seu risinho atrevido - Você não me disse o que vai fazer em relação ao pai.

- Não há nada que possa fazer, pelo menos não agora. A não ser ficar de olho. Agora são dois enrustidos que tenho que tomar conta pra não fazerem besteira.

E olhou para Lucas, esperando por uma resposta ou réplica. Que não veio.

- Não vai dizer nada? – inquiriu.

- Não há nada pra dizer. Exceto que você tenta demais me salvar, através dos outros.

- Eu não tento te salvar! – Guilherme disse – Infelizmente, não dá mais. Mas posso fazer alguma coisa pelos outros.

- Claro que pode. Mas você exagera, Gui. E, se sou fruto do seu subconsciente, você também sabe disso.

Guilherme percebeu o que o irmão estava tentando fazer:

- Eu vou continuar, não importa o que você pense.

- Tecnicamente, o que você pensa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário