quarta-feira, 21 de julho de 2010

Trinta e Quatro - Declarar

- Rafael!

Rafael quase morreu do coração. Era Selton. Não era imaginação. Selton estava na sua casa.

- Rafa! Vim trazer sua camisa!

“O que vou fazer? Como ele entrou em casa? Como chegou aqui?”

Ele limpou o rosto, enxugando as lágrimas.

- Aqui em cima! – gritou.

Não demorou e Selton bateu na sua porta e abriu, sem esperar resposta.

- Desculpa ir entrando, Rafa. O portão da frente estava aberto e ... Ei, Cara, você está chorando! – mesmo no escuro, Selton percebeu o estado do amigo e ficou preocupado - O que foi está passando mal? O que está acontecendo?

Rafael ainda estava entalado com o choro. Fez força para falar alguma coisa, alguma desculpa esfarrapada, qualquer frase que pudesse fazer Selton ir embora. No entanto, não conseguiu fazer nada.

- Cara, você está assim desde que viemos da festa! Me deixa entrar e pode desabafar comigo, você sabe!

Rafael continuou mudo. Conseguiu apenas sair do caminho e sentou-se na sua cama.

- Valeu, cara - disse Selton, depois de fechar a porta. Ele sentou na cama também, de frente pra Rafael - O que está acontecendo, cara? Por que você está assim? Parece que nem se divertiu hoje!

Estava cara a cara com Selton. A tristeza desapareceu na mesma hora, deixando lugar, não para a felicidade, mas para uma ansiedade avassaladora. Uma vez ouviu que quando se estava perto da pessoa amada, você sente borboletas no estômago. Ele sentia, naquele momento, um iceberg congelando seu interior! Congelante e pesado! Ficou na dúvida se deveria contar para Selton o que se passava. Poderia desabar que não faria diferença alguma, estava tudo perdido mesmo! Mas não tinha coragem de olhar nos olhos do garoto e dizer o que sentia. Qual seria sua reação? O que ele diria? Poderia simplesmente se virar e ir embora, poderia dizer que não sentia nada aquilo por ele, mas que seriam amigos, desde que não invadisse seu espaço. Poderia dizer que nunca ia ter um amigo viado e espalharia para a escola toda que ele era gay! O entenderia ou o ridicularizaria?

- Por que está assim, Rafael? É por causa da Ana? Você gosta mesmo dela, mas não tem coragem de dizer, de pedi-la em namoro? Está se sentindo usado?

Deu-se conta, então, que seu corpo tremia violentamente.

- Não - gaguejou.

- Você era afim da Débora? Poxa, cara, desculpa, eu não sabia! Se for isso, eu saio do seu caminho! Pra mim foi só uma ficada, nada mais!

O que achou impossível aconteceu. Ouvir aquilo o encheu com um alivio brando, mas ainda estava tenso.

- Fala, cara! Fala alguma coisa!

De repente, sentiu-se menos oprimido, como se a declaração de Selton fosse um revigorante.

- Eu... eu gosto de você - disse Rafael com a voz trêmula, incerto se estava fazendo a coisa certa.

- Eu também gosto de você, cara! Mas o que isso tem a ver?

- Você não entendeu. Eu gosto mesmo de você! Desde que você chegou na escola, não consigo parar de pensar em você, penso em você o tempo todo! Na escola, na rua, em casa! Às vezes, acho que estou enlouquecendo!

Selton ficou calado. Na escuridão do quarto, era difícil dizer como estava reagindo.

- Então, na festa, você sumiu porque não agüentou me ver com a Débora?

- Desculpa, cara! Eu sei que não deveria falar nada disso! Sei que não deveria sentir nada do que sinto por você! Mas foi inevitável!

De repente, Selton deu um pulo, avançou para cima de Rafael e o beijou.

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