quarta-feira, 21 de julho de 2010

Trinta e Um - Sozinho

Agora estava definitivamente sozinho. Trancado em seu quarto, com o rosto no travesseiro, tudo o que lutou para não mostrar enquanto estava com Ana ou Selton, explodiu de dentro pra fora. Sua alma era um misto de incontáveis sentimentos negativos: tristeza, raiva, ciúmes, desprezo, desilusão, desorientação. Sua cabeça rodou em milhares de possibilidades: de ter que enfrentar Selton e Débora todos os dias, namorando, abraçados; ver os dois saindo da casa do garoto altas horas da madrugada, se torturando ao imaginar o que poderiam ter feito; de ter que vê-los juntos, quando a galera combinasse alguma balada. Não sabia se sobreviveria àquilo.

Talvez, fosse até bom. Assim se tocaria de que se apaixonar por um garoto não daria certo jamais! Ainda mais pelo melhor amigo! Deveria esquecer aquela história de uma vez por todas e pararia de sofrer! Sofrer não o levaria a lugar algum! Mesmo que tivesse o apoio de Ana em seu gosto de “contra-mão”, iria criar vergonha na cara e passaria a gostar apenas de garotas, pois teria muito menos problemas na vida!

Melhor! Ficaria sozinho para sempre! Não podia se enganar achando que gostava de garotas, mas podia escolher não se relacionar com mais ninguém! Seria não-sexuado! Não se enganaria e não se torturaria mais com seus complexos de estar errado, de ser anormal! Viraria padre!

Permaneceu ali, deitado, ouvindo a chuva que começava a cair, sob os relâmpagos que queimavam o céu, abraçando o travesseiro, alimentando um sonho ingênuo e até amargo de estar abraçando Selton. Suas lágrimas sumiam no tecido macio, afogando o garoto naquela tempestade de sofrimento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário