domingo, 18 de julho de 2010

Vinte e Oito - Outras Vizinhanças

A festa que Alex tinha mencionado era, na verdade, um churrasco. Que aliás, estava fadado ao desastre, porque uma nuvem negra vinha pelo céu e a chuva era iminente.

Por um momento, Rodrigo achou que deveria ter ficado em casa. Estava cansado, exaurido e era desconfortável tanto ficar em pé, quanto sentar, e o pior era que tinha que fingir que nada estava ardendo pra não levantar suspeitas. Gente estranha, com conversas que ele não tinha o menor interesse em se inteirar. Nem os caras da festa lhe chamavam a atenção. Até que Carla, a namorada de Alex, apresentou-lhe uma amiga.

Laura era bonita, rosto em forma de gota, cabelos castanhos, compridos e lisos, olhos pretos e cílios longos, coisa rara em mulheres. Imaginando que a noite estaria quente, ela se vestia apenas com um shortinho jeans que deixava suas belas pernas expostas e o top de um biquíni verde florido. Mas o que mais chamou a atenção de Rodrigo foram os lábios rosa e brilhosos, carnudos e convidativos.

A princípio, Rodrigo não estava animado a conhecer ninguém, muito menos mulher. No entanto, não podia ser mal educado, e se não fosse conversar com a garota, Alex ia perturbá-lo a semana inteira. Preferiu engatar a mesma conversa de sempre. Era só dizer que era militar que depois o papo fluía naturalmente – se estivesse com a farda, ela, com certeza, abriria as pernas ali mesmo. Se sentaram mais afastados do barulho, na varanda da grande casa, onde tinha umas cadeiras de palha com almofadas aconchegantes.

Descobriu que Laura estava estudando para ser pedagoga, morava em uma republica feminina com mais três amigas, porque era de outra cidade. Coincidência, pois ele também não era de Juiz de Fora. Tinha ido servir o exército e voltava poucas vezes para sua cidade natal. Ela também não tinha muito tempo para visita os familiares primeiro, porque era muito longe, segundo porque os estudos não deixavam. Laura era amiga da dona da festa, ele era penetra, convidado pelo namorado da amiga da dona da festa. Falavam amenidades, coisas banais, sem muita importância. Quando percebeu, estava sorrindo para Bianca e ela sorria de volta. Rodrigo estava carente, queria atenção e Laura estava lhe dando, se interessava por ele, puxava conversa, perguntava da vida dele. Foi essa atenção que o fez tomar a iniciativa e perguntar, bem no ouvido dela:

- Posso te dar um beijo?

O sorriso de Laura se intensificou, ela enrubesceu, e piscou os olhos. Aquilo era um sim acanhado.

E daí se gostava de homem? E daí se estava com o cu ardendo de tanto dar? E daí se gostava de pêlo e pica? Não importava. “Tem alguém aqui que está afim de mim e não só de me usar!”

Rodrigo segurou Laura pelo rosto e lhe deu um beijo demorado, lento, saboreando o gosto de sua boca.”Morango” Sem interromper o beijo, ela se levantou de sua cadeira e sentou no colo de Rodrigo. Ele se perdeu, sentindo aquele corpo liso, suave, cheio de curvas, o perfume adocicado do hidratante de corpo. “Como isso faz falta”, constatou.

- Nossa - ela sussurrou, com os lábios quase colados com os dele - Que beijo.

- Você também.

E os dois ficaram, curtindo um ao outro na poltrona na até que a chuva começou a cair. Gotas geladas, pesadas como pedras vinham em um ângulo que parecia impossível, carregadas pelo vento forte. A nuvem negra que Rodrigo vira mais cedo estava praticamente em cima da casa, engolindo o sol da tarde. De um lado, o céu estava brilhante, em tom âmbar, do outro, de um cinza tão intenso que algumas nuvens pareciam verdes.

Respingados, os dois interromperam a ficada e correram para se proteger da chuva dentro da casa, porque só o telhado da varanda não estava dando conta. Todos que estavam na festa, fizeram o mesmo, se sacudindo e passando as mãos no corpo e cabelos para secaram. Rodrigo e Laura fecharam rapidamente a porta corrediça da varanda, e ficaram maravilhados com a chuva. Ela tinha piorado tanto que agora parecia uma cortina opaca, refratando a luz agora pálida do Sol.

- Nossa, você está toda molhada – ele disse – E tremendo. Espera – mais do que depressa, Rodrigo tirou sua camisa, que, embora úmida, daria pra tirar o excesso de água do corpo de Laura.

- Não, não precisa, Rodrigo – ela ainda tentou impedi-lo, mas era tarde. Ele já estava esfregando a camisa em seus braços.

- Vai ficar molhada, não! – depois que a secou, jogou a camisa no ombro e a abraçou, encostando em sua pele arrepiada e fria.

- Pode vestir sua camisa. Vou pegar uma na minha bolsa.

- Tem certeza?

- Tenho.

- Ok.

Ela subiu na ponta dos pés pra beijá-lo e foi em direção à Carla que estava nos braços do namorado. As duas foram para um corredor e sumiram no interior da casa. Sozinho, Alex veio falar com o amigo.

- Mando bem, soldado. Todo cavalheiro, todo gentil.

- Eu não estava muito afim, não. Mas valeu a pena.

- Te disse, soldado. Você não acredita em mim.

- Valeu, cabo – Rodrigo, bateu no ombro do amigo, em gratidão - Peraí - pediu, quando sentiu o celular vibrando no bolso. Tirou o aparelho e analisou o visor. Era uma chama de um número não registrado na sua agenda, mas que ele já conhecia de cor.

“Você de novo? Não cansa, não?”

- Quem é, soldado? A garota de hoje cedo?

- Éh! – mentiu.

- Despacha, antes que a Laura volte.

- Nem precisa – Rodrigo rejeitou a chamada, desligou o celular e o colocou de volta no bolso. “Se queria me comer de novo, porque não ficou no apartamento, seu filho da puta!”

Alex encarou o amigo espantado.

- Que isso, soldado?! Já está desse jeito?

- Tenho coisa muito melhor aqui – respondeu, sério.

Laura e Carla voltaram, vestidas e secas.

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