domingo, 18 de julho de 2010

Vinte e Sete - Analisando

Guilherme tinha passado o dia preocupado. E não era por causa da sua pele avermelhada e ardida, ou por causa da sensação de cabeça leve por causa da cerveja. Sabia que ter visto Selton ficar com Débora devastara Rafael. Era aquilo que ele temia. Mas, infelizmente, dadas as circunstâncias ele não podia ter feito nada. Por sorte, Ana estava por perto para remendar os pedaços do amigo e talvez – só talvez - a situação não ficasse tão feia. Ele ainda pensou em perguntar alguma coisa à garota, para dar uma sondada, mas temeu soar suspeito demais. Por enquanto, não poderia fazer nada além de observar, o que, no seu caso, não era pouco.

A maior parte do pessoal desceu no mesmo ônibus, enquanto outros ficaram na granja, curtindo o finzinho da tarde à beira da piscina e o som que Gustavo fazia em seu violão. Guilherme preferiu ir embora, já que a festa tinha praticamente acabado e queria observar Rafael, saber como ele estava encarando a situação.

Além dele e Rafael, quase uma dezena de outros colegas decidiram ir embora de uma vez, de ônibus. Ônibus que demorou uns bons minutos e assim que chegou todo mundo subiu como desesperados. As mochilas pareciam estar duas vezes mais pesadas do que quando foram, por causa das roupas mal dobradas e as toalhas molhadas, o que dificultou na hora de passar nas roletas.

Rafael, Ana, Selton e Débora sentaram nos últimos bancos, junto com Diego. Aquilo atrapalhava as intenções de, mas não o impedia de ficar de olho. Sentou com outros amigos nos bancos da frente e sentou de lado, puxando conversa com Bernardo que tinha se acomodado do outro lado do corredor. Assim, podia dar olhadas rápidas para trás.

A coisa não ia bem. Débora e Selton continuavam o agarramento, do lado de Diego, que conversava com Ana, pra não ter que ficar segurando vela. Estavam mais discretos do que na granja, mas isso não devia diminuir o sentimento de Rafael. Ele estava introspectivo, olhando para fora do ônibus como quem enxerga um horizonte alheio ao restante do mundo. Ana volta e meia perguntava alguma coisa ao amigo, que balançava a cabeça, fingindo estar bem. Diego também perguntava algumas coisas a Rafael, mas recebia respostas monossilábicas, quando muito. Guilherme achou curioso ao reparar que Selton também estava preocupado com Rafael, mas Débora não o deixava fazer parte da conversa. Para uma feminista entusiasmada e independente, ela estava bem dependente da atenção de um homem!

- Ei! Cara! Esquece a Ana – Bernardo disse, ao notar que não tinha a total atenção de Guilherme.

- Quê?! Nada a ver, Bernardo! – Guilherme se defendeu.

- Cara, você está olhando pra trás desde que a gente entrou no ônibus. E não é com uma expressão muito feliz.

- Já falei, cara! Você está viajando.

- Guilherme, ela está na do Rafael. Passou.

“Se você soubesse da missa a metade...”, Guilherme pensou.

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