Sueli desceu sozinha para tomar seu habitual café do meio da manhã. Ainda insistiu que Lúcia fosse com ela, mas não conseguiu. Entre tomar café sozinha e passar a manhã sonolenta, preferia descer desacompanhada mesmo.
Logo que chegou ao balcão já pediu à atendente uma xícara de café.
Quando seu pedido foi entregue, o homem disse:
- O cavalheiro ali, já pagou o café.
Sueli, que estava distraída, se espantou:
- O quê?! Quem? – ela olhou para onde o homem apontou. Sentado logo ali perto, estava Pablo, sorrindo simpaticamente e acenando. O jovem advogado estava ainda mais elegante do que o dia anterior, calça social preta e uma camisa esporte fino clara com listras azuis. Sueli suspirou, pensando: “Eu mereço...” Pegou sua xícara pelo pires e se sentou do lado de Pablo.
- Por favor, me diga que a Lúcia não armou isso?
- Não exatamente...
- “Não exatamente”?
- Venho aqui todos os dias. Ela só me avisou que horas você viria.
- Aquela desajuizada... – ela reclamou, abrindo bolsa – Não tem nada na cabeça. Aqui, o dinheiro do café.
- Porque você está resistindo tanto? – Pablo perguntou, recusando a nota de dois reais – Imagino que você deva ser uma mulher independente, mas uma cortesia não faz mal a ninguém.
- Isso não é uma cortesia, é uma tentativa de aproximação.
- Por que não pode ser os dois? – Pablo retrucou, aproximando-se.
- Porque nenhum nós não deveríamos.
- Não vejo motivo nenhum para tanto.
- Deus! Você é insistente.
- Não acredito que tenha a ver com Deus, mas sim, sou muito insistente. E tudo que peço são alguns minutos, um café amigável. Só isso.
Sueli percebeu que não teria jeito de se livrar de Pablo com facilidade. E realmente, não faria mal algum dispensar alguns minutos de conversa. Hesitante, ela guardou o dinheiro do café na bolsa, fechou-a e delicadamente, bebericou um pouco da bebida.
- Antes de começarmos nossa “conversa amigável”, por que esse interesse em mim? O que aconteceu com as meninas de vinte e poucos anos? Sumiram?
- E estou interessado em você há muito tempo. Como disse, via você no fórum, admirando, não apenas seu trabalho, mas você também. Esse era o meu interesse.
- Estritamente profissional?
- Claro que não.
- Você sabe que tem mais chances de se dar bem com uma garota da sua idade do que comigo?
- Depende do que você define como “se dar bem”.
- As coisas nunca vão passar desse cafezinho.
- É tudo o que peço.
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