segunda-feira, 28 de junho de 2010

Vinte e Oito - Dando o Troco

Rafael seguiu Guilherme e, ao alcançá-lo, perguntou:

- O que você está tramando?

Guilherme se virou, e aquele ser quase angelical que se materializava perto de Ana sumiu, deixando lugar para o habitual Guilherme: o sarcástico e irritante.

- Do que você está falando?

- Alguma coisa você está tramando, Guilherme. Esse tipo de bondade nunca foi muito a sua praia. Ou você acha que vai impressionar a Ana, “salvando os fins de semana” dela?

Guilherme olhou para Rafael, com algo que parecia desprezo:

- Você devia me agradecer, Rafa. Ontem, a Débora me disse que as coisas entre ela e o Selton já estavam encaminhadas, e que ficariam no fim de semana, quando fossem fazer o trabalho. Sem o trabalho, sem ficada.

- O que o faz pensar que eu me importo? – Rafael disse, desafiante.

- Eu já percebi como você olha pra Débora quando ela está com o Selton, ou fala dele. A raiva fica estampada na sua cara, só os outros não percebem. Você se corrói de ciúmes, Rafa. E com razão, diria.

- Ele é meu amigo! Já falei isso!

- Eu nunca disse o contrário, Rafa. Mas admita, você gostaria de ser algo mais... – Guilherme sorriu, malignamente.

Rafael engoliu em seco:

- Não! – mentiu.

Guilherme riu.

- Ok. E eu sou a rainha da Inglaterra – e se virou para ir embora – Aproveite minha boa vontade, Rafael, e agradeça por ter adiado a ficada dos dois. Ela será inevitável se não fizer alguma coisa e rápido.

- Eu vi você saindo de um carro, ontem – Rafael disse. Guilherme estancou e voltou a encarar Rafael, toda sua arrogância tinha desaparecido.

- Do que você está falando? – Guilherme perguntou, receoso.

- Ontem, você me encurralou no fim da aula e saiu, de repente. Lá fora, vi você sair de um carro, com um homem lá dentro.

Guilherme inclinou a cabeça, com um olhar intenso.

- Fiquei pensando: porque será que você me persegue tanto? Será que esse é o jeito psicopata que você arranjou de me “cortejar”?

Guilherme sustentou aquele olhar sério, mortífero por alguns instantes:

- Sabe, Rafa, eu sei o que você está tentando fazer: quer usar algum podre meu para me manter afastado, ou pelo menos sob controle - até que seu típico sorriso emergiu e seus olhos faiscaram – mas antes que você pense que eu estava me encontrando com um amante secreto, saiba que aquele era meu pai.

- Se era seu pai, porque saiu a pé e não de carro com ele?

Guilherme pensou por um momento, cogitando se devia falar.

- Sabe, se chegar a descobrir isso, talvez a gente possa voltar a conversar. Até lá... evite bancar o bad boy, que você não é, e tente não passar por momentos embaraçosos como esses.

Rafael olhou para Guilherme com a expressão fechada. Tinha certeza de que poderia afugentá-lo com aquela história do carro, mas tudo o que conseguiu foi ser humilhado.

- Posso ir agora? – Guilherme perguntou, ironicamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário