segunda-feira, 28 de junho de 2010

Vinte e Sete - Eficiência Insuspeita

Rafael e Selton encontraram Ana no ponto de ônibus e pegaram a habitual condução até o colégio. Ana até estranhou a disparidade entre o humor de Rafael no dia anterior, com o novo que ressurgira, aparentemente, depois de uma noite de sono. Nunca tinha visto ninguém de tão bom-humor, logo às seis e meia da manhã.

E, realmente, Rafael estava mais aliviado por ter pedido desculpas a Selton e ele ter aceitado tão bem. Ainda sentia que sua amizade era mais importante que qualquer briga. Queria, mais do que tudo, a amizade de Selton e não jogaria isso no lixo por tão pouco, nunca mais!

Lá pelas tantas, Débora surgiu para falar com Selton, com seu carisma abrasador. Como sempre, Selton acabou dando atenção à garota, mas, pra variar, Rafael tentou controlar seu ciúme e conseguiu, ao menos, tolerar a falação infindável da garota, sem querer arrancar sua cabeça do pescoço com uma faca enferrujada. Tudo que podia fazer era torcer para que o dia de fazer o raio daquele trabalho demorasse muito para chegar e que até lá, Débora insistisse tanto que perderia a graça para Selton e que eles não ficariam.

Mas também não podia esperar que Selton ficasse solteiro e sozinho para sempre. Se continuassem amigos – como esperava que acontecesse por muito tempo – logo apareciam as ficadas, as garotas interessantes; até porque, depois do jogo da noite anterior, Selton se tornou bem popular. Logo, passaria a sair e andar mais com os caras do jogo, baladas insanas e garotas à vontade. Não! Era melhor mesmo e acostumar com a idéia de Selton ficar com outras pessoas. Até porque a idéia de se ressentir por algo que nem existia era absurda!

E Selton não seria a primeira paixão que teria que superar por não ser correspondido – e certamente não seria a última. Já teve que esquecer várias outras garotas no passado e tinha sobrevivido muito bem obrigado. Não seria diferente só porque Selton era homem. Passaria por um sombrio período de melancolia, acompanhado de diversas músicas melosas, algumas sessões de filmes com Ana e estará pronto pra outra. Se bem que, outra como aquela ele não queria nunca mais.

Era hora do intervalo, Ana e Rafael estavam conversando sobre qualquer coisa, enquanto Selton e Débora prosseguiam a dançar verbal deles, quando Guilherme apareceu carregando uma pasta. Ele parecia cansado, mais do que o habitual.

- Bom achar todos vocês aqui – Guilherme disse entregando a pasta a Ana – Eu estava de bobeira ontem a noite, aí fiz os exercícios de química, do trabalho. Dêem uma olhada e se quiserem podem tirar cópia pra verem o que tem dúvida.

- Ei! Vai com calma - Selton disse – Você já fez o trabalho?! Sozinho?!

- Eram mais de trinta questões Guilherme! – Ana relembrou, espantada, enquanto folheava as páginas – E você fez no computador?! - Débora e Rafael se aproximaram de Ana e olharam por cima do ombro dela, observando. Fórmulas inteiras, estruturas atômicas de hidrocarbonetos, equações químicas perfeitas, com a sinalização dos elétrons de valência, símbolos químicos. Parecia um livro-texto de química – Quando você fez isso?!

- Às vezes tenho crises de insônia. Fiquei acordado a noite inteira, aí aproveitei pra adiantar o trabalho.

- “Adiantar”?! – Rafael exclamou - Você fez o trabalho!

- Todas as questões estão aqui – Ana constatou, chegando à ultima página.

- Bem, eu não tenho certeza de que estejam todas certas, fiz o que pude. E depois preciso do nome de vocês pra fazer a capa. Como o trabalho é só pra semana que vem, dá pra resolver isso mais pra frente.

Os quatro estavam impressionados com a eficiência absoluta de Guilherme. Rafael sabia que ele era inteligente, mas não que podia resolver uma série de dezenas de exercícios de química e ainda fazer todos os gráficos e reações químicas no computador.

- Como você fez os desenhos? – Rafael perguntou.

- Qualquer meia hora em Corel Draw resolve isso. E só tem hidrocarboneto... aí o “copiar e colar” ajuda bastante.

Rafael farejou que tinha alguma coisa no ar. Modéstia nunca foi uma característica de Guilherme.

- Obrigada – Ana disse, desconcertada – Você... salvou meu fim de semana.

- Salvei o meu também.

- Valeu mesmo, cara – Selton disse, olhando o trabalho.

- Eu vou lá comprar alguma coisa pra ver se fico acordado.

- Vai lá, Gui – Débora disse desanimada. Talvez porque seus planos de tentar ficar com Selton no fim de semana tinha ido por água abaixo.

Guilherme se afastou, enquanto Rafael ainda pensava nos prováveis motivos que o garoto teria para “tamanha gentileza”. Conhecia bem ele, Guilherme não dava ponto sem nó. Alguma coisa ele estava armando, e não devia ser boa.

- Gente, já volto.

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