quinta-feira, 8 de julho de 2010

Doze - Granja

O sábado tinha amanhecido frio, como era de costume, mas o sol prometia esquentar logo mais, para a felicidade de todos.

Selton, Rafael e Ana se encontraram com a maioria do pessoal num ponto de ônibus no centro da cidade. Todo mundo levava mochilas abarrotadas, com zíperes quase estourando, com comida, bebidas, roupas de banho toalhas e mais um monte de coisas. Gustavo levava até um violão nas costas.

Ficaram quase quarenta minutos no ponto esperando o ônibus que lhes levaria à tal granja. Quando ele veio, Rafael até se assustou, pois nunca tinha ouvido falar naquela linha. Todo mundo passou com dificuldade pela roleta, afinal, pareciam estar de mudança com tanta coisa nas mochilas. Se acomodaram nos bancos – não estranhamente vazios – e curtiram a viagem conversando animadamente.

A granja que os garotos alugaram ficava num bairro isolado do centro da cidade – muito isolado – a viagem de ônibus demorou quase tanto quanto a espera por ele. Já tinha ficado assustados com a paisagem erma que apareceu nas janelas. As casas desapareceram deixando lugar apenas para matagais intermináveis, os postes de luz ficaram cada vez mais escassos, deram graças à Deus que ainda estava rodando sobre asfalto. Quando desceram, estranharam a atmosfera limpa, fria e silenciosa. Pouquíssimas coisas ao redor faziam barulho, talvez só os pássaros e o vento.

Em frente ao portão de entrada da granja alugada, Diego, Danilo e Guilherme estavam com várias sacolas de carne, temperos, carvão e refrigerantes. Todos se cumprimentaram, até que a pergunta se tornou inevitável.

- Ei, por que está todo mundo aqui fora? - perguntou Gustavo.

- Por que o Bernardo está com chave, só que ele ainda não chegou! - disse Danilo visivelmente irritado por estar esperando.

- O restante das coisas está lá dentro?

- Sim. O Bernardo, Roberto, a Jaqueline e a Natália vieram ontem para adiantar a comida e trazer a cerveja! O Bernardo me ligou falando que tinham esquecido o som! Agora vê se pode! Eles esqueceram o principal!

- O principal, não! A cerveja já está aí! - gritou a Débora, uma das amigas de Ana.

- Nisso você tem razão! - concordou Selton com um sorriso.

Rafael olhou aquela cena e percebeu um olhar malicioso de Selton para cima de Débora. “Precisava começar tão cedo?!”, pensou.

Guilherme pigarreou e Rafael se assustou. Percebeu que tinha demonstrado mais do que pretendia com sua raiva. Guilherme notara que ele ficou vermelho e logo deu um jeito e atrair sua atenção. Se antes ele estava vermelho de raiva, agora, estava branco de medo.

Rafael respirou fundo para se controlar e, lutando contra seu ciúme – mesmo que jamais admitisse isso - mudou de assunto:

- Mas por que não tem ninguém na casa? Eram quatro pessoas!

Danilo olhou para ele:

- As meninas não quiseram ficar sozinhas e não tinha como um deles ir buscar o som sem ajuda!

- Maravilha! - disse Ana, impaciente.

Eles ficaram ali por mais meia-hora, conversando, trocando idéias e – o mais incrível – comentando algumas aulas! Até que um Chevrolet Celta vermelho, virando a esquina na rua. Todo mundo sabia que aquele era um dos carros do pai do Bernardo, que, volta e meia, ele pegava pra dar umas voltas por aí.

Bernardo, que sempre gostou de uma farra, ao ver que já tinha um monte de gente esperando na porta da granja, começou a buzinar, fazendo a maior festa.

- Finalmente! - reclamou Danilo.

- Para de reclamar e me ajude de a tirar as caixas!

O grupo todo ajudou a levar as coisas pra dentro da casa. Como havia muita gente, não foi difícil carregar as compras e os meninos descarregaram as caixas de som e o micro system. A casa, que antes estava mergulhada no silêncio, ficou em polvorosa. Todo mundo queria fazer alguma coisa pra ajudar. Enquanto Guilherme, Selton e Danilo instalavam o som, o restante do pessoal guardava ou organizava a comida, o carvão, a carne e, óbvio, outros já foram abrindo as garrafas de cerveja e servido o pessoal. Pelo andar da carruagem, foi muita sorte os organizadores terem comprado um estoque exagerado de cerveja. Rafael já serviu um copo para si próprio e um para Ana. Os dois foram dar uma olhada no restante da casa e ficaram maravilhados com a beleza do terreno. A piscina ficava logo do lado da casa, e a cor da água ao sol era muito convidativa; logo depois havia um grande gramado aberto e depois um campo de futebol, na verdade só havia os gols. Do outro lado da casa, havia um campo de vôlei e um jardim.

- Ou, essa casa é muito top! - comentou Ana.

- É, sim! Ei, eu vou lá no quarto, calçar os chinelos e já volto.

E ele se retirou, foi até o quarto do andar de baixo, onde as mochilas estavam guardadas, retirou seu par de chinelos e trocou o tênis pelo calçado mais comportável, tirou a camisa e guardou-a, também. Quando se virou pra sair, trombou em alguém, derramando cerveja pra tudo que é lado.

- Opaa!!

Rafael se afastou e só então viu que tinha esbarrado em Selton.

- Cara! Desculpa! - disse. Ele e Selton estavam encharcados de cerveja, só que o garoto moreno ainda estava com sua camisa.

Selton caiu na gargalhada.

- Parece que a gente vive se esbarrando, literalmente!

Rafael não achou nada engraçado, estava tão desconcertado que nem riu.

- Tenho uma camisa sobrando! - e se virou para pegar a camisa que tinha tirado.

Selton, também, ficou sério:

- Não precisa não, Rafa! Eu vou ficar sem camisa!

- E quando você for embora? Não vai com essa camisa com cheiro de cerveja, né!

- Deixa isso de lado, Rafa! Já disse que vou sem camisa!

Rafael o ignorou, prontamente, e colocou sua camisa limpa na mão do amigo.

- Não discute! – acrescentou.

Selton ficou meio sem jeito, mas aceitou.

- Tudo bem. Mas não vou vestir agora. - e tirou sua camisa molhada, embolou e deixou num canto, próximo à sua própria mochila. Dobrou a camisa que Rafael havia emprestado e guardou-a. Tirou o tênis e deixou no canto, também.

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