quinta-feira, 8 de julho de 2010

Onze - De Saída

O restante da semana passou rápido. Rafael mal conseguia conter sua empolgação. Não que fosse sua primeira festa ou a última, mas gostava de se divertir com os amigos de turma, era um momento em que não precisava se controlar tanto, já que quase ninguém se mantinha sóbrio o suficiente para reparar em suas ações.

No entanto, até o sábado, ainda tinha que deixar alguns estudos em dia. Ana voltou a estudar com ele durante as noites e em todas os dias elas perguntava, exaustivamente, se havia alguma coisa errada com ele. Rafael se manteve impenetrável, irredutível. Negou-se amplamente a contar o que se passava em sua vida que pudesse atormentá-lo tanto.

Enfim, na sexta-feira a noite, Rafael não se agüentava de ansiedade e, para se acalmar, foi arrumar sua mochila para o dia seguinte. Pegou chinelos, cueca, meias e toalha. Ele abriu a última gaveta do seu guarda-roupa, uma que sua mãe nunca mexia e pegou duas caminhas. Vivia a filosofia do “nunca se sabe”. Então, ele deixou a mochila em um canto e foi jantar, se sentindo um pouco mais aliviado.

Acordou bem cedo. Tinha combinado com Ana e com Selton que encontrariam o resto do pessoal no centro e iriam para a granja de ônibus, mesmo que fosse muito fora de mão.

Ele saltou da cama assim que o despertador do celular tocou e já se enviou em baixo do chuveiro, desceu para tomar café com a mochila na mão, a deixou no sofá da sala e foi para a cozinha. Ele engoliu o café quase sem mastigar e foi esperar o amigo no portão. Quando sua paciência chegou ao limite, ele percebeu que estava dez minutos adiantado.

Selton saiu pelo portão e veio cumprimentar o vizinho:

- Bom dia, cara! Está aí há muito tempo?

- Não. Uns dez minutos.

- Poxa! Desculpa, podia ter me chamado, cara!

- Não! Eu que sou meio desesperado mesmo.

Nesse momento, o portão da entrada fez um barulho e Sueli apareceu por ele.

- Bom dia, Selton - disse a mãe de Rafael, surgindo pelo portão que se abria.

Rafael, ás vezes, achava estranho ver a mãe em trajes informáveis e se espantava ao ver o quanto ela era bonita. Geralmente, ela vestia um blazer sobriamente pálido e brincos discretos ou, quanto tinha algum coquetel, se vestia com um belo vestido preto e maquiagem. Mas era muito difícil vê-la como uma mulher comum, como naquele dia. Sueli vestia uma blusa branca com estampas de folhas verdes uma calça jeans, um tamanco de madeira e brincos de argola.

- Bom dia. Como vai a senhora?

Sueli parou olhando para Selton e depois perguntou a Rafael:

- Minhas rugas estão aparecendo?!

- Não, mãe.

- Então, por que ele me chamou de senhora?! Senhora está no céu! - disse ela com um sorriso – Juízo vocês dois, hein! - disse Sueli quando - Não bebam muito.

- Não vou beber, mãe.

Ela fez cara uma cara débil:

- Eu sou mãe, mas não sou idiota, Rafael! Eu sei o que rola nessas festas! Só estou pedindo pra você não abusar!

- Ok, mãe - ele se inclinou e deu um beijo no rosto dela.

- Quer que vá buscá-los?

- Não, a gente deve voltar com o pessoal também.

- Certo. Mas mesmo assim, se precisar me liga. Você sabe como me encontrar.

- “Se não estiver em casa, está no escritório” - ele repetiu a instrução que a mãe sempre lhe dera, desde que começou a ficar sozinho em casa - Eu sei, mãe.

- Boa festa, então, filho. Divirta-se - Sueli retribuiu o beijo do filho e o observou ir embora pela calçada, conversando com o amigo. Seu coração ficava apertado quando filho ia a festas com cerveja e tudo o mais, mas preferia confiar na criação que dera a ele do que ficar se desesperando achando que tudo de ruim poderia acontecer.

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