sexta-feira, 18 de junho de 2010

Nove – Negro Olhar

Assim que a aula de literatura terminou, os colegas mais próximos foram falar com Selton enquanto Rafael ponderava se devia ir ou não se apresentar. Se já tinha ficado apavorado só de ser chamado a ir cumprimentá-lo, conversar, provavelmente lhe causaria um derrame. Preferiu ficar admirando Selton de longe.

Rafael ficou impressionado com o como Selton era desenvolto. Embora ainda estivesse intimidado pelas novas pessoas, ele se saia muito bem conversando, rindo e explicando quando e porque tinha se mudado de Brasília.

Porém, a próxima aula já estava para começar e o resto do dia correu mais ou menos daquela maneira. Rafael deu algumas espiadas sem perceber que desejava que Selton devolve-se o olhar. Até o momento em que Selton o viu e o encarou.

Rafael travou. “Ele me viu!” Rafael imaginou que Selton fosse desviar logo o olhar, afinal de contas, o que nele poderia interessar-lhe. Enganou-se. Selton cravou os olhos escuros nele com intensidade, com um brilho peculiar, indecifrável. Por um breve segundo, Rafael esqueceu da aula, da sala, das pessoas ao redor. Mas foi literalmente um segundo.

Como se uma agulha tivesse lhe espetado, se tocou do que estava acontecendo. Ficou roxo de vergonha, o estômago congelou em desespero. Queria enfiar a cabeça num buraco. “O que eu faço?!”

Sem qualquer idéia, Rafael apenas acenou com a cabeça discretamente, e ainda com os olhos arregalados, se virou para frente. “O que foi que eu fiz?!”

Nenhum comentário:

Postar um comentário