- Por acaso, entrei na casa errada? - disse uma voz grave, atrás dele, pertencente a um homem alto e magro, pele morena e rosto liso e um queixo levemente protuberante. Estava vestido com uma camisa social branca e uma gravata desamarrada ao redor do pescoço, e carregava uma maleta em uma das mãos. Embora seu rosto fosse uma máscara de cansaço, ainda havia algum brilho de humor ali. Um humor sarcástico, óbvio!
- Ah! Não! - disse Rafael desconcertado. - O senhor deve ser o pai de Selton.
- Sim, sou! O que me leva a crer que você é quem está na casa errada.
- Me desculpe, senhor. Selton me convidou pra ver filme com ele e eu só vim aqui ligar pra casa e avisar minha mãe.
O pai de Selton sorriu simpaticamente - foi impossível não notar a semelhança entre os dois e chegou mais perto de Rafael, deixando a maleta jogada no sofá e pousou a mão sobre o ombro do garoto.
- Eu que tenho que pedir desculpas. Fui agressivo, mas acho que você entende, certo? Meu nome é Hugo e, como você pôde perceber, acabei de chegar.
- Ah! Eu vou deixar o senhor terminar de chegar em casa, em paz. - Rafael bem que tentou ser simpático, mas ainda estava constrangido, sentia-se invadindo a privacidade da casa de Selton. Um estranho no ninho - O Selton deve estar me esperando para terminar de ver o filme.
- Tudo bem. Fale que já subo pra falar ele.
- Pode deixar.
Rafael só deu as costas para Hugo quando não havia outro jeito. Subiu as escadas envergonhado e ainda se sentia estranho quando entrou no quarto de Selton. O ventilador já estava ligado e girando, arejando o cômodo todo e o garoto estava deitado na cama.
- Você demorou, Rafa. Problemas com sua mãe?
- Não. Encontrei seu pai na sala.
- Ah! Então você já conheceu o senhor Amorim? - disse ele, rindo.
- Parece que sim.
- Aposto que fez uma piadinha sarcástica quando te viu na sala.
- Fez.
- Ele é assim mesmo. Sempre encara as coisas com bom humor, mesmo que não seja o nosso padrão de humor. Senta aí, quero terminar de ver o filme.
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