O sinal tocou e aos poucos os alunos voltaram para suas respectivas salas. A maioria só se assentava quando os professores apareciam.
Rafael apertava os nós dos dedos de ansiedade. Logo, Selton entrou pela porta, seguido de Ana e Débora. Ana sentou-se na sua carteira ao lado de Rafael, encarando-o com uma expressão confusa. Débora, no entanto, passou batida pela sua e sentou-se perto de Selton.
A professora de literatura entrou e jogou e jogou sua pasta na mesa e ajeitou a caixa de giz. Margarida era uma mulher que beirava os cinqüenta anos, cabelos levemente avermelhados, cortados em estilo channel. Usava sempre um xale por cima das roupas e um óculos de armação escura no rosto. Tinha o nariz ancudo e olhos observadores. Usava dezenas de pulseiras num braço e um grande relógio no outro.
Margarida colocou as mãos na cintura e observou a turma se aquietar em suas carteiras.
- Bom, gente! – e seus olhos atento correu a sala e fixou-se em Selton, então, contraiu-os com interesse e curiosidade. Selton, que ainda conversava com Débora, não notou que Margarida prestava atenção e tomou um susto quando ela falou:
- Você deve ser o novato...
Selton parou sua conversa com Débora e olhou para a professora que o encarava com um sorriso simpático.
- Éh! Sou – concordou, embaraçado.
Selton pareceu ter encolhido na carteira, sob o olhar de quase trinta pessoas.
- Seu nome é?
- Selton.
- Eu sou a Margarida, professora de literatura. E você veio de onde? É daqui mesmo?
- Brasília.
- Direto do planalto central. Já se acostumou com os morros e a umidade?
Selton sorriu, sem graça:
- Ainda não.
- De qualquer forma, seja bem vindo. E se prepare para tornar o guarda-chuva e o moletom materiais de primeira necessidade.
Algumas pessoas riram da piada sutil da professora, porque o tempo em Juiz de Fora era um pouco maluco. De dia, frio; à tarde, um calor infernal; à noite, chuva! Qualquer forasteiro passava mal com as mudanças bruscas de temperatura na cidade.
- Bem, gente – a professora chamou a atenção da turma, embora alguns ainda olhavam para Selton com curiosidade – Na última aula, nós paramos na analise do livro “Incidente em Antares”, certo?
E, então, a aula começou de fato.
No entanto, Rafael não conseguia se concentrar. A cada dois minutos dava uma espiada para trás. Quando achou que estava dando bandeira demais, fixou o olhar na professora e foi anotando o eu podia sobre o livro. Sua concentração não durou mais do que dez minutos. Não foi Selton que o distraiu desta vez. De repente, uma folha de fichário, com bordas rosas e um ursinho Pooh no topo, apareceu balançando. Rafael tomou a folha da ma estendida de Ana , que o encarava com um olhar severo. Era um bilhete que dizia em letras cursivas e redondamente perfeitas:
“O que deu em você na hora do intervalo?!”
Rafael leu e escreveu rapidamente, antes de devolver a folha:
“Nada! Eu só queria vir para sala”, achou que seria mais convincente, agora que estava escrevendo.
“Até parecia eu você não queria falar com o Selton...”
“Não!”
Os dois trocaram um olhar
Rafael pensou: “por que eu não consigo convencer Guilherme como convenço a Ana?...”
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