sexta-feira, 18 de junho de 2010

Vinte e Sete – Rodrigo

A sessão obrigatória de TFM tinha acabado. Alex tinha corrido vários quilômetros, feitos sabe-se lá deus quantas abdominais, barras e flexões. Eram séries relativamente fáceis, considerando o que fazia na academia, mas não podia reclamar. Começar o dia fazendo exercícios lhe fazia muito bem. Algum de seus companheiros de farda não tinham a mesma disposição que ele e achavam diversas maneiras de escapa do TFM, mas não Alex. Ele adora correr e se exercitar, e depois tinha uma bolinha básica com os amigos. Todo dia. Quantos homens podiam dizer que jogavam bola com os amigos todo dia? Quase ninguém.

Mas Alex não estava no exercito pra fazer exercício físico. Ele tinha orgulho de vestir a farda, assim como seu pai e seu avô - que participara, inclusive de uma campanha na Itália, durante a segunda guerra. Estava apenas esperando mais alguns anos pra ganhar uma promoção e talvez, quem sabe, a possibilidade de participar de missões no exterior, representar a bandeira e a nação brasileira. Era meio utópico pensar daquela maneira, mas era o que ele sentia. Sentia orgulho de ser brasileiro e de ser das fileiras do exército. Tinha sido feito pra isso.

Depois de umas quatro partidas, a pelada na quadra tinha acabado e quem o pessoal que tinha ficado no jogo foi tomar banho, para poder continuar com o expediente do dia. De uma hora para outra o vestiário se encheu de homem e, junto com eles, o falatório. Enquanto tiravam as roupas, falavam dos jogos, da rodada do Campeonato Brasileiro, loteria, carros e, principalmente, mulheres e sexo. Enfim... era um vestiário masculino. Alex já tinha participado muito dessas conversas – e não só das conversas. Mas desde que começara a namorar, preferia ficar à margem de conversas que envolviam prostitutas, strippers, seios e outros tópicos relacionados. Alguns colegas o chamavam de “anjinho”, porque ele não participava das farras que indiscriminavam solteiros, casados ou comprometidos. Podia ser antiquado, mas Alex era fiel ao pé da letra a sua namorada.

Enquanto comentava, ouvia e ria das conversas dos amigos, Alex ligou o chuveiro e sentiu a água gelada batendo no corpo. Ali ninguém estava de roupa. Os homens andavam sem pudor algum entre bancos, armários e chuveiros sem se acanhar – embora alguns tivessem motivos. Ensaboava o corpo musculoso, quando alguém chamou.

- Ei, Cabo.

Do seu lado, Rodrigo , um soldado mais novo que ele, tomava seu próprio banho. Rodrigo tinha a pele ainda mais clara que a de Alex, e cabelo negro e curtos; rosto quadrado, e o queixo partido – com covinha. Tinha braços e pernas roliças e peitoral estufado, mas não tinha a mesma definição que Alex, talvez fosse um ou dois quilos acima do seu peso ideal. Os dois se conheceram logo que Rodrigo foi recrutado e passaram a servir no mesmo quartel. Alex era dois anos mais velho que Rodrigo mas os dois dividiam a mesma paixão pelas forças armadas e só isso era o bastante para que se tornassem grandes amigos.

- Fala, soldado – Os dois se tratavam pelas patentes, mas não tinha nada a ver com a hierarquia; quando estavam de folga, era mais fácil usar as patentes como apelidos do que chamar um ao outro pelo nome.

- Vai rolar o que hoje?

- Olha, eu não sei. Mas a Carla está querendo sair, pegar um cinema.

- Saquei. Deixa pra lá, então. Ia te chamar pra tomar uma gelada, mas a esposa vem em primeiro lugar.

Alex riu.

- Olha, posso ver se ela pode levar uma amiga, ai você se arranja lá com ela.

Rodrigo considerou.

- Nada, cara. Valeu. Estava pensando numa noite dos “brow”, mas a gente marca outra hora.

- Aconteceu alguma coisa, soldado? - Alex perguntou.

- Nada, cabo. Outra hora a gente enche a cara.

Alex ficou meio ressentido porque, desde que começara a namorar, as noitadas com o amigo se tornaram cada vez mais raras. Essas noites, aliás, eram lendárias. Quando não estavam escalados para o dia seguinte, os dois juntavam os poucos caraminguás que tinham e torravam tudo com bebidas e garotas; Rodrigo morava sozinho numa quitinete alugada e nessas noites virava – sem eufemismos – um verdadeiro bordel. Quando não conseguiam garotas em festas ou afins, pagavam prostitutas mesmo e transavam até o dia amanhecer. Até que, alguns meses antes, Alex conhecera Carla e acabaram-se as noites de boemia, sem saudade nenhuma das dezenas de mulheres que conseguia na noite, sentia apenas falta das boas horas que tinha com o amigo pra poder conversar e beber.

- É só marcar, soldado, que a gente enche a cara.

Alex fechou os olhos para proteger da espuma que caía enquanto lavava o cabelo. Assim, não pôde perceber que Rodrigo observava cada movimento seu, como seus músculos salientes e a pele molhada.

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