sexta-feira, 18 de junho de 2010

Treze - Alex

O carro do irmão estava na garagem, um Fiat Pálio Azul Marinho, comprado uns anos a custo de muito suor. Isso indicava que o irmão já tinha chegado do quartel. E mais: o almoço já deveria estar pronto!

Rafael passou pela porta da garagem e logo que entrou na sala o cheiro do bacon frito com ovos fez seu estômago roncar ferozmente, o chiado da fritura soava baixinho, vindo da cozinha.

- Lex! O almoço está pronto? - Rafael gritou.

- Ainda não! Dá tempo de tomar banho ainda! Vai lá!

- Ok!

Rafael subiu as escadas para e virou para o seu quarto. A casa em que morava era grande e tinha muitos cômodos. Quatro quartos, o da sua mãe e o seu ficavam no segundo andar, e o quarto do irmão ficava no primeiro. O quarto restante Sueli fez de escritório. O quarto de Rafael foi decorado ao longo do tempo do jeito como ele gostava, sua escrivaninha tipo bancada, os brinquedos de coleção, os pôsteres das bandas que gostava, o closet, tudo arrumado como ele gostava que fosse.

Felizmente, ele tinha ficado com a outra suíte, o que lhe rendia uma privacidade muito confortável. Ele já entrou no quarto jogando a mochila na cama e tirando a meia e a roupa direto para o banho. A água quente escorrendo pelo corpo lhe tirava aquela sensação de cansaço e lhe aliviava a tensão acumulada.

Viajando nos pensamentos, Rafael se lembrou de Selton. Como aquele garoto poderia ter mexido tanto com ele? Devia ser charme, pois Selton nem chegava a ser exatamente bonito, pelo menos, não tanto quando Naldo ou outros garotos que Rafael secava diariamente. No entanto, ele o encantava. Havia algo estranho naquele garoto. Algo que o deixava completamente sem chão.

E não podia ser mais sinistro. O novato do colégio era seu vizinho, do outro lado da rua. A distancia entre uma casa e outra não dava nem vinte metros direito. A vida tinha um jeito engraçado de traçar seu curso. Será que aquilo significava alguma coisa? Rafael evitava pensar em destino e coisas do tipo, mas era difícil imaginar não havia algum tipo de força misteriosa por trás daquela coincidência.

Tomou seu banho rapidamente e desceu para a cozinha, onde o irmão, agitava uma panela.

Dizer que Alex era um jovem de aparência normal, seria injustiça. Era loiro como o irmão, mas tinha puxado os olhos azuis da mãe; o cabelo raspado estilo militar. Tinha um maxilar robusto e um nariz meio torto por conta de um acidente de infância, mas isso não diminuía sua beleza estonteante. Era alto e definiu bastante o corpo depois que se alistara para o quartel e fora chamado para servir, há três anos. Estava decidido a seguir carreira, mesmo que não chegasse longe dentro do exército. Tinha lá seus planos reserva, como entrar para alguma polícia ou algo assim, mas sua meta principal era ser militar. Rafael já tinha reparado nos detalhes do corpo do irmão e, mesmo achando ele muito atraente, não sentia tesão propriamente dito, apenas uma admiração pela beleza. Definitivamente, Alex tinha um corpo muito bem trabalhado.

- Demorou, hein! - comentou Alex com o prato cheio na mesa.

- Me distraí. - Rafael pegou um prato e se serviu.

- Com o quê? Ou melhor, com quem? - disse o irmão cheio de malícia.

- Não enche! - disse sentando-se a mesa.

- Tá nervosinho por quê?

- Não é da sua conta.

- A mamãe falou que chega tarde, hoje, então vou trazer a Carla pra cá, ok?

Rafael virou-se para o irmão com alguma desaprovação:

- Você sabe que a mamãe não gosta que você a traga pra cá sem estar aqui.

- Eu sei que não gosta, mas estou sem grana pra pagar motel e já tem um tempo que não fazemos nada! Eu já estou ficando doido.

- Usa a mão, oras!

Alex mirou o irmão com desprezo:

- Não é a mesma coisa, moleque! - e deu um tapa na cabeça de Rafael.

- Você vai gozar da mesma forma não vai? E o melhor de tudo: não corre o risco de engravidar a Carla e nem de irritar a mamãe!

- Existe uma coisa conhecida como camisinha, mané! Nunca viu não?

- Tenho uma gaveta cheia delas no meu quarto!

- Não adianta nada ter camisinha na gaveta, moleque! Usa com quem?

Aquela discussão de novo... Rafael se cansava da cobrança irritante do irmão. Aliás, não só do irmão. Os amigos também o enchiam com esse assunto de sexo, de ser virgem ou, pelo menos, de nunca ter dito que transara. Realmente, ele ainda era virgem, mas nunca tivera um relacionamento duradouro o suficiente para levar alguém pra cama. Na verdade, nunca tivera um relacionamento. Ficou com algumas garotas, mas pouquíssimas vezes. E ainda tinha a questão dos meninos sempre esquentarem suas fantasias e jamais teria coragem para tentar alguma coisa com outro homem. Às vezes, chegava a pensar que morreria virgem.

- Minha vida sexual é minha! Você não tem nada a ver com isso!

- Ok, pouca-prática! Fica com as suas gavetas! - disse Alex, rindo.

Rafael não achou nada engraçado. Aquela questão era especialmente pertinente para ele. Nunca tivera muitas oportunidades para perder a virgindade. Na verdade, o número de vezes era igual a zero! e não ter tido nem um amasso mais quente o perturbava. Tinha dezesseis anos, faria dezessete em breve, e nunca tinha visto ninguém pelado - exceto os meninos no vestiário e o irmão quando saia do banho. Mas na intimidade, nunca teve oportunidade. E ele queria muito poder tocar, queria sentir o contato da pele, a umidade de um beijo mais provocante, a respiração ofegante correndo pela pele do pescoço.

Como seria? Era, mesmo, bom como todos diziam ser? Era tudo aquilo? Aquela ânsia, aquele torpor físico guiado apenas pelo prazer?... Como seria?

Curiosidades à parte, havia outro ponto mais pertinente: homem ou mulher?

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