sexta-feira, 18 de junho de 2010

Três – Selton

O primeiro dia de aula de Selton na nova escola e já estava chegando atrasado! “Bela maneira de passar despercebido!”, pensou enquanto subia apressado a rua íngreme. Como se já não bastasse o cansaço da mudança, o despertador sem pilha e o ônibus atrasado, ainda tinha fazer uma escalada para chegar a escola! “Maldita cidade!”, praguejou, sem fôlego para falar. Em Juiz de Fora, para todo lado que se olhava tinha um morro para subir. E não era apenas o seu mau-humor matutino falando. A expressão “mar de morros” não fazia jus a geografia daquela cidade. Para Selton, que tinha vindo de Brasília, tanta subida e descida o deixava louco. Isso para não falar da umidade.

Selton ajeitou a mochila no ombro ao passar pela guarita, intrigado com a superficialidade elitista. Mais adiante, passou pelo edifício principal da escola, um prédio do início do século XIX, imponente, com paredes róseas e detalhes sinuosos. Dois andares acima do portão principal um anjo dourado olhava para baixo, inexpressivamente.

A rua continuava ao redor do edifício principal, para os outros núcleos e o restante do estacionamento. Felizmente, Selton não teria que percorrer todo aquele caminho. Suas aulas, pelo que lhe falaram, seriam no prédio praticamente ao lado do edifício principal. Tinha uma fachada clássica, assim como o primeiro, mas por dentro, era mais moderno. Piso de granito cinza e folhas de madeira nas paredes.

Selton subiu as escadas para o andar superior e chegou a um grande hall, amplo, de paredes muito altas. Entre as imensas janelas, havia painéis retratando a evolução do homem, desde o “macaco”. Ao fim do hall havia uma outra escadaria que dava acesso a um nível superior da mesma sala. O garoto começou a achar aquele lugar grande demais.

Ele chegou a uma série de corredores e perambulou procurando a secretaria. Ser novato era um saco!

Havia se perdido e não sabia mais pra onde ir.

Para sua sorte, havia uma garota vindo na sua direção.

- Ei! - chamou.

A garota olhou para trás alarmada.

- Eu estou procurando a secretaria - ele disse, arfando.

- Novato? - ela perguntou, percebendo a falta de noção de Selton.

- Éh! - confirmou, sem jeito.

- Eu sou Débora - ela disse, estendendo a mão e sorrindo.

Selton esqueceu que estava atrasado diante do sorriso de Débora. Reparou que ela era linda, deslumbrante. Cabelos negros e corpo esbelto, pele bem clara e algumas sardas sob os olhos verdes. Boca rosada e cintilante por causa do brilho labial. Ela tinha um olhar intenso agora que não estava mais assustada. Selton podia até jurar que viu um lampejo de interesse nela.

- Selton.

Ela se inclinou pra cima dele e o cumprimentou com “três beijnhos”, deixando-o um pouco sem graça. Era a primeira pessoa gratuitamente simpática que conhecia naquela cidade.

- Vem, vou te mostrar onde é a secretaria.

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