sexta-feira, 18 de junho de 2010

Vinte e Um – O Dia Seguinte

O dia seguinte surgiu em meio a uma serração estranha, o ambiente estava mergulhado em um cinza tristonho.

Rafael tinha levantado muito antes do habitual, tomou um banho rapidamente e ficou pronto antes do previsto, mesmo que tenha passado um tempo meio exagerado em frente ao espelho arrumando o cabelo para que ficasse um pouco desarrumado... Desceu para a cozinha o tomar da café, onde sua mãe vigiava um bule com água fervendo.

- Já?! – ela falou. – Nem o despertador acordou ainda!

- Eu sei. Acordei mais cedo e não conseguir voltar a dormir. Aí, resolvi levantar de uma vez. – era em partes verdade. Ele não contou à mãe que tinha acordado por causa de um sonho estranho que teve com Selton. Mal se lembrava do sonho, mas sabia que tinha alguma coisa a ver com festa... Como ficou nervoso por não conseguir se lembrar do sonho, levantou-se e foi se arrumar.

- Eu também acordei mais cedo. Tenho um processo complicado para estudar.

- O vovô não te proíbe de trabalhar, não? – Rafael perguntou, enquanto abria um pão com uma faca. Sueli era uma advogada familiar e trabalhava para o pai em seu escritório de advocacia. Desnecessário dizer que Sueli era sua “filha favorita”, afinal, foi a única dos três filhos que seguiu seus passos como advogado.

- O Alex já saiu?

- Há muito tempo.

- Às vezes tenho a impressão de que ele não mora mais aqui. Se não está o quartel, está na casa da Carla.

Sueli tirou o bule do fogo e despejou a água fervida no coador de café, e logo o líquido quente pingou na leiteira, deixando no ambiente o forte odor característico do grão.

- Vai querer café?

- Aham – murmurou.

Sueli tombou a leiteira sobre um copo de vidro e encheu-o de café, e então entregou ao filho que já devorava o pão.

- Você está diferente, hoje. Aliás, desde ontem que estou sentindo você assim.

Rafael quase engasgou com o pedaço de pão que mastigava.

- O quê?! – será que sua mãe tinha percebido que está todo animado por causa de Selton? Será que sua mãe estava começando a sacar o seu interesse pelo garoto? Estava dando muita bandeira.

Sueli se assustou com a tosse repentina do filho e foi ajudá-lo.

- O que houve? Você está bem?

- Estou – disse depois de tossir um pedaço particularmente afiado da casca do pão. – Tudo bem. Tentei comer e respirar ao mesmo tempo, só isso.

Sueli ainda estava preocupada com o filho, que parecia pálido, mas provavelmente apenas pelo susto.

- Tem certeza de que foi isso? Você engasgou logo depois de eu ter falado que você está diferente. – Sueli não era boba e, embora preferisse o direito familiar, aprendeu muito bem a interrogar testemunhas em casos criminais.

- O que você quer dizer com isso?

- Já faz tempo que não te vejo arrumado... – ela disse, sorrindo – Você sempre procurou se vestir bem, mas não tão bem assim...

- Não é nada, mãe. Só acordei a fim de caprichar um pouco mais. Só. – disse, sem perceber que estava ficando vermelho.

Sueli murmurou, achando graça. Realmente fazia tempo que não via o filho daquela maneira. Não eram apenas as roupas que estavam diferentes naquele dia. Havia um certo brilho ao redor do garoto, Sueli podia jurar que havia uma espécie de sorriso permanente em seu rosto. Da última vez que Sueli vira o filho daquele jeito fora há alguns anos atrás, quando ele confessou estar gostando de uma garota. Ela não tinha motivos para desconfiar de que não fosse a mesma coisa agora. Seu filho estava apaixonado.

Ela podia ficar ali, o dia inteiro, tentando descobrir quem era a garota, mas sabia que só iria embaraçar ainda mais o filho. Preferia quando ele vinha até ela e conversavam sobre o que estava acontecendo.

- Entendi – respondeu – Mas esse estilo de cabelo vai ficar melhor se você cortar um pouco.

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