sexta-feira, 18 de junho de 2010

Trinta – Filme

Depois do almoço e do sono da tarde, Rafael acordou revigorado. Lavou o rosto em sua suíte e foi separar os cds que Selton queria e o fez com todo o prazer. Não gostava de emprestar seus cds de coleção; Ana teve que, praticamente, implorar por meses a fio até que Rafael se propusesse a emprestar. E sobre as mais absurdas condições. Só depois teve a brilhante idéia de fazer uma cópia e emprestá-la, mas ai já era tarde demais...

Com Selton era diferente. Primeiro, porque o garoto sabia o significado de ter uma coleção de cds e, por tanto, saberia tratar adequadamente seus pertences. E, segundo, porque Rafael dificilmente negaria algo a Selton.

Quanto terminou de juntar alguns cds - mais até do que o novato o pedira - Rafael foi estudar mais um pouco, dar uma lida na matéria do dia para não ficar muito vago. Descobriu com desgosto que probabilidade não sairia tão cedo de sua grade, o que lhe renderia muitos problemas. Até se surpreendeu por ter conseguido se manter calmo, sob a perspectiva de ir visitar Selton em sua casa. Logo ele, que era tão ansioso.

Ao anoitecer, ele fechou os livros e os cadernos , fez um lanche, pegou os cds e foi à casa do amigo. Atravessou a rua e se deliciou com o calor brando que o cercava naquele entardecer tão especial. O céu púrpura o maravilhava, algumas estrelas discretas piscavam lá no alto e o horizonte ainda tinha aquele leve tom amarelado.

Que noite perfeita pra beijar, pensou.

Quando chegou ao portão da casa branca de Selton, ele tocou o interfone. Agora sim estava ansioso e pareceu uma eternidade até que alguém o atendesse.

- Oi.

Rafael reconheceu a voz, imediatamente:

- Selton, é o Rafa, vim trazer os cds.

- Ah! Beleza, cara. Entra aí!

E a tranca da porta chiou com a corrente elétrica e ele a abriu.

Depois de muito tempo, Rafael por admirar o jardim da casa branca, outra vez. Estava um pouco mal cuidado, afinal, a família de Selton tinha se mudado a pouco tempo e, certamente, tinham coisas mais importantes para arrumar. Mas dava pra ver o quanto era bonito.

- E aí, Rafa! Tudo certo? - a voz de Selton soou na janela da sala de estar.

- Tudo tranqüilo.

Rafael se aproximou da porta e ouviu Selton virar a chave para abri-la. Então, o garoto moreno estendeu-lhe a mão.

- Pode entrar. Só não repara a bagunça. Ainda não tivemos o tempo pra arrumar tudo. Só demos uma ajeitada geral pra poder começar a organização de verdade.

Então, Rafael olhou a sala. Do ponto de vista dele, até que não estava tão bagunçada. Na parede oposta a porta, estava um rack de tabaco e, em cima dele, uma TV de vinte e nove polegadas conectada a um aparelho de DVD e um home theater. Havia também um barzinho com diversas bebidas e os sofás brancos combinavam com o restante da sala e da mobília, como uma mesinha de vidro e um tapete felpudo no chão. Havia algumas fotos de Selton e do restante de sua família em cima da rack também, e do lado do telefone que estava perto de um dos sofás.

- Vamos subir. Meus cds estão lá no quarto.

Rafael o acompanhou e, ao chegarem ao pé da escada, reparou que o restante da casa estava em silêncio.

- Seus pais não estão?

- Não. Minha mãe saiu pra resolver alguma coisa da loja dela e meu irmão saiu mais cedo pra aula.

“Estamos sozinhos”, e logo sua imaginação explodiu com milhares de cenas picantes, apenas para serem severamente rechaçadas logo em seguida.

Selton subiu as escadas primeiro e Rafael o acompanhou. Não pode deixar de notar as pernas e a bunda do amigo e, se fosse um pouco mais impulsivo, teria tocado-as ali mesmo. A estranha sensação de culpa o invadiu mais uma vez e abaixou a cabeça.

- O que mais você trouxe de bom?

- Mais alguns cds, achei que talvez você pudesse gostar - e entregou os cds para o amigo, que os analisou.

- Nossa! Não podia ter acertado mais! Adoro todas as bandas que você trouxe!

- Nossos gostos são bem parecidos, hein?!

- São mesmo! - disse Selton - Estou começando a ficar com medo! - e riu. - Entra aí!

Eles entraram no quarto e, ali sim, estava bagunçado! Algumas caixas ainda estava entulhadas a um canto e muita roupa suja se acumulava ao pé da cama. O coração de Rafael quase parou ao perceber uma cueca, por ali. A escrivaninha de Selton tinha atulhado os livros e cadernos, junto com um monte de outras revistas alguns cds. Na estante, Selton tinha um verdadeiro centro de mídia. Televisão, aparelho de som, vídeo e DVD conectados a um computador de aparência agressiva, em cores vermelho e preto, que se impunha na escrivaninha.

- Nossa! Eu achava que tinha coisa demais no meu quarto! - comentou Rafael.

- Ah! Eu gosto de ver filmes e copiar algumas coisas que passam na TV, ouvir música com qualidade. Eu sou meio chato nesse ponto e em Brasília eu fazia trabalho de conversão de vídeo pra DVD.

Mas, apesar de vários aparelhos, a estante de Selton ainda parecia um pouco vazia e Rafael imaginou ser o restante não estava nas caixas.

Selton jogou a pilha de roupas pra debaixo da cama e deu uma ajeitada na cama e disse para Rafael se sentar.

- Eu ia ver um filme agora. Se quiser ficar ai pra assistir... Daqui a pouco desço pra fazer alguma coisa pra gente comer.

Rafael engasgou! “Ele está me convidando pra ver filme? Aqui no quarto dele? Será que ele está querendo alguma coisa? Não seja idiota, ele só quer companhia pra ver filme!”

- Bem, vou ter que avisar minha mãe daqui a pouco, quando ela chegar. Achei que não demoraria, então, não deixei aviso!

- Beleza! Quando você quiser pode usar o telefone, lá embaixo! Eu ia ver “V de Vingança”. Você curte?

- Curto sim! Queria ver esse filme quando estreou no cinema, mas não tive tempo de ir ver!

- Ótimo! Ainda não consegui vê-lo, também! E não estava a fim de ver sozinho.

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