- Ei! – e hesitou. “O que estou fazendo?” – Selton, não é?
O garoto moreno parou e olhou para trás um tanto alarmado pela abordagem repentina. Rafael também não disse nada, tentando entender o que estava fazendo. “Fique calmo, ele não morde”.
- Você é o novato do terceiro B, certo? – teria dito a coisa certa?
- Sim, sou eu. Você é o Rafael. – Selton espremia os olhos para evitar a claridade excessiva que vinha de praticamente todo lugar.
“Ele me conhece?”
- Em pessoa.
- Éh! A Ana me falou...
“Claro! Quem mais?!”, Rafael pensou.
- Coincidência morarmos no mesmo bairro! – Quando Rafael o alcançou, os dois retomaram o caminho.
- Pois é. Mudei no fim de semana.
- Gostando da cidade?
- Ainda não tive tempo de conhecer nada. Estávamos muito ocupados com a mudança e tudo o mais... – Selton explicou.
- Entendo.
Eles ainda desceram a rua conversando animadamente. Rafael não pôde deixar de sentir seu estômago frio, um pouco receoso com aquela companhia; era absolutamente agradável, contudo, temia que desse alguma bandeira e não queria que Selton o entendesse mal e achasse que era gay.
Selton não percebeu – ou, pelo menos, não demonstrara perceber – os olhares que Rafael dava, checando o desenho do rosto, do nariz, seu porte esguio, as pernas compridas e cor da pele. O sorriso. Selton sorria abertamente, sem reservas ou restrições, era um sorriso claro e sincero, não por educação.
Rafael chegou em frente ao portão de casa, uma construção grande e recuada alguns metros atrás do muro alto; por cima dele, só era visível o peitoral de vidro da varanda do segundo andar. A fachada era uma combinação de laranja e pedras ocre no muro e ao redor das janelas.
- Bonita casa – disse Selton, impressionado.
- Valeu. E você? Mora onde?
- Logo ali – e Selton apontou para uma casa amarelo-claro, com um muro alto, mas com cerca eletrificada no topo.
Rafael jamais poderia imaginar. A antiga família mura-se de lá fazia muito e ninguém ocupara desde então.
- Quem poderia dizer que somos vizinhos?... – Rafael comentou.
- Verdade... Aqui cara, vou indo! A fome está quase me matando – e estendeu a mão.
- A mim também. – Rafael respondeu o cumprimento. Selton apertou sua mão, firmemente.
- Acho que vamos ter mais tempo para conversar já que somos vizinhos...
- Aham! Quando quiser conhecer o bairro, é só me dar um toque.
- Beleza. Até mais cara – Selton sorriu e se virou para ir para casa.
- Rafael ainda ficou um tempo olhando-o, mas quando percebeu que poderia dar bandeira, ele entrou rapidamente e bateu o portão.
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