sexta-feira, 18 de junho de 2010

Vinte e Seis – Ciúmes

Rafael voltou a sala, irritado com o que Guilherme tinha falado. Como ele podia insinuar na cara de pau que ele sentia alguma coisa por Rafael, que o “destino” tinha colocado Selton na casa do outro lado da rua. Estupidez. Nem ele mesmo achava isso. Ou pelo menos tentava não pensar daquela maneira. Conhecia Selton a menos de um dia e já sentia algo conflitante pelo garoto novato; se começasse a sonhar que o “destino” tinha juntado os dois, iria a loucura em dois minutos.

Chegou em frente a porta, desejando, ingenuamente, que Guilherme não estivesse na sala, mas era besteira pensar nisso. E mesmo que encarar a pessoa que o infernizava fosse um pensamento sombrio, ao entrar na sala, ele se deparou com outra coisa que o balançou. Selton e Débora conversavam aos risos. A garota gesticulava e mexia no cabelo, com graça. Ele percebeu que Débora estava bem mais produzida naquela manhã – mais do que o usual – maquiagem mais intensa, cabelo feito às sete horas da manhã, cílios delineados com rimel e batom avermelhado, de brilho muito intenso. Ela estava linda! E Selton não tirava os olhos dela por nada, acompanhava cada movimento que ela fazia.

Um calor repentino lhe acometeu. Era um mistura de medo e raiva que sentira poucas vezes na sua vida. “Cuidado, Rafa. Débora o viu primeiro e a gente sabe que o que ela quer, ela pega...?”, foi o pensamento imediato que lhe ocorreu. Ele respirou fundo, tentando se controlar.

- Ei! Rafa, chega mais! – Selton o chamou quando o viu.

Aquela raiva súbita se abrandou, mas não muito. Ainda sentia seu corpo tremendo ao perceber que Débora ainda estaria ali.

- Bom dia – ele disse meio seco para a garota.

- Bom dia, Rafa! – ela devia estar mesmo muito concentrada em Selton, porque não percebeu que ele tinha sido rude com ela.

- Curte sai pra dançar, Rafa? – Selton perguntou, animado.

Ele olhou para a rodinha e logo deduziu que aquela idéia só podia ter sido de Débora.

- Não. Não gosto, muito. – ele respondeu. Em partes era verdade, mas Rafael não queria incentivar nada que pudesse aproximar Selton de Débora ainda mais.

- O Rafa é mais caseiro – Ana disse, rapidamente. – Não costuma sair muito com a gente, não.

- Ah! – Selton respondeu. Se Rafael tivesse prestado atenção, teria percebido um flash de decepção no olhar do novato.

- Mas agente pode arrastar ele um dia desses também. Ele não vai se importar vai, Rafa? – Débora disse, com um sorriso demasiadamente animado.

Rafael não soube o que responder. Se dissesse tudo o que tinha em mente, poderia arrumar uma confusão sem tamanho.

Felizmente, naquele momento, o professor entrou na sala. Rafael não teve que responder o que não queria para não ser grosseiro, o tumulto da turma se arrumando na sala os interrompeu bem na hora.

Rafael tirou seu material da mochila, se preparando pra assistir a aula, tentando relaxar daquele ciúmes descabido. “O que deu em mim?”, pensou. Não tinha direito nenhum de se sentir daquela maneira, afinal de contas, Selton não era nada seu além de amigo. Amigo, homem! “Se liga! Pare com isso, Rafael! Ele é só seu amigo! E, ao contrário de você, ele é normal! Gosta de garotas! Então, pare de ter esses pensamentos idiotas!”

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