sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sete - Guilherme

Guilherme era um garoto alto e loiro, de olhos intensos, verde jade, que brilhavam com uma luz astuta e aumentava sua beleza com certo ar de inteligência e mistério. Guilherme era, de certa forma, isolado dos outros. Não era tímido, apenas não parecia ter uma amizade sincera e sólida com ninguém. Rafael o achava exageradamente independente. Ao bem da verdade, Rafael não tinha quase afinidade alguma com ele, e piorara desde que, num momento inoportuno, Guilherme o flagrara secando os garotos de outra turma. Rafael sempre ficava apreensivo quando Guilherme chegava perto.

- Desculpe – Rafael disse, meio seco.

- Sem problemas – o outro respondeu com um sorriso cínico – Estava olhando quem desta vez? – disse esquadrinhando as pessoas fora da sala.

- Ninguém – Rafael respondeu, abruptamente.

- O novato? – disse ao notar o rosto desconhecido.

- Que novato? – Rafael fez-se de desentendido, mas não pôde evitar olhar para Selton.

- Não se faça de bobo. Aquele conversando com Ana e Débora.

- Ele já não estudava aqui?

Guilherme olhou para Rafael de cima a baixo, com um sorriso difícil de decifrar. Seria orgulho?

- Você é um péssimo mentiroso, mas pelo menos está tentando... Passei duas vezes por você aqui e foi como se eu não existisse, quando normalmente você foge de mim. Achei até romântico quando você sorriu vendo o sorriso dele. Romântico, mas um pouco patético...

- Pare de me encher, Guilherme!

- Agora, falando sério... É mesmo romântico. Você nem o conhece e já está apaixonado. Será que vai acontecer a mesma coisa com ele?

- Como você é insuportável! – Rafael já estava com raiva da babaquice de Guilherme.

Ele, no entanto, não parecia cansado de irritar.

- Cuidado, Rafa. Débora o viu primeiro e a gente sabe que o que ela quer, ela pega... – disse Guilherme, maliciosamente, difamando os colegas como se fosse a coisa mais fácil do mundo.

Aquela foi a gota d’água! Não que Guilherme estivesse errado, mas ele já tinha passado dos limites.

Rafael detestava confrontos, detestava discussões e ofensas; era uma pessoa pacifica. No entanto, conhecia o calcanhar de Aquiles de Guilherme:

- Você é mesmo um mau caráter. Não me espanta que Ana não queira nada com você.

Ali! Foi como um tijolo batendo com toda força contra o estômago. O sorriso e a postura prepotentes de Guilherme sumiram. Todo mundo sabia que Guilherme nutria um sentimento próximo de amor por Ana, que nunca correspondeu. Rafael sabia que era crueldade falar daquele jeito e ferir os sentimentos de alguém; mas Guilherme mereceu.

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