sexta-feira, 18 de junho de 2010

Quatro - Dentro de Sua... Cabeça?

Rafael não tinha certeza de quando começara a se sentir daquele jeito. Os pensamentos mais explícitos surgiram por volta dos onze anos, logo que entrara na puberdade e os assuntos de romance – e sexo – se tornaram mais urgentes; mas, quando fazia um retrocesso, tinha a impressão de que aqueles sentimentos sempre estiveram ali. Sempre se pegava olhando as pernas dos garotos, torneadas pelas inúmeras peladas de fim de semana ou braços e peitorais esculpidos por horas em academias. Uma vez teve que correr para longe quando Guilherme, outro colega de turma, subiu um pouco a camisa num dia de muito calor e viu aquela trilha de pêlos no abdômen descendo em um caminho perigoso. Até aí, Rafael não havia nada demais; ou, pelo menos, nada muito preocupante. Porém, no último ano, as coisas ficaram mais difíceis. Particularmente depois de uma aula de educação física.

Desde que percebera que gostava de olhar os corpos dos colegas no vestiário, passou a enrolar e demorar no chuveiro, assim, quando saísse, já não haveria mais ninguém no banheiro para olhar, afinal de contas, não era viado! Até o dia em que Danilo se atrasou numa conversa com o professor e chegou ao vestiário depois de Rafael. Quando terminou seu banho estrategicamente demorado, o garoto loiro se deparou com Danilo terminando de tirar a roupa. Foi um choque. Como nunca havia se permitido, nunca pôde imaginar que ver um garoto nu fosse lhe despertar tanto tesão. Danilo tinha o corpo bem formado pela natação e o tronco completamente liso. Era a primeira vez que via um homem “mais a vontade” – exceto pelo irmão mais velho. Um calor intenso tinha lhe tomado todas as reações. Ficou ali, parado, admirando boquiaberto, aquele corpo perfeito. E ficou ainda mais paralisado ao notar que sua atenção se prendia ao volume nu que Danilo sustentava entre as pernas. E, numa fração de segundo que pareceu interminável, milhares de pensamentos passaram pela cabeça.

Depois daquele dia, as olhadas inofensivas para homens se tornaram um tormento. Sentir aquela euforia, aquela emoção não lhe parecia certo. Junto com o prazer de vê-los e desejá-los, vinha a culpa, uma tristeza fria que o acometia todas as vezes que ficava sozinho pensando nos amigo gostosos. Não queria ser um viado, uma bicha! O que seus amigos diriam se descobrisse que ele podia ser gay? E se acabasse andando por aí, rebolando e falando fino? E sua mãe? Tinha muito medo do que ela poderia pensar de um filho homossexual. Temia ser excluído, perder o respeito que nem conquistara.

Decidiu que esperaria tudo aquilo passar, afinal de contas, uma parte dele também gostava de meninas. Com sorte, aqueles sentimentos eram passageiros, apenas uma confusão da adolescência. Pelo menos, era o que esperava... “Não sou viado!”, repetia para si mesmo toda vez que divagava. “Não sou!”

Nenhum comentário:

Postar um comentário